JC
Aeroporto de Cascavel, sexta-feira, 9 de agosto de 2024. Às 11h58, 62 pessoas embarcaram na aeronave da Voepass - voo 2283 - com destino a Guarulhos, São Paulo. Essas pessoas saíram de casa, do trabalho, se despediram de amigos, dos colegas, dos alunos, dos familiares. Os motivos da viagem eram vários: compromissos profissionais, estudos, passeios, visitas, volta para casa, realização de sonhos. Quem poderia imaginar que o "tchau", o "até logo", "segunda a gente se vê" se tornaria, na verdade, um adeus. Foi a última despedida. Eles não chegaram a São Paulo. A aeronave caiu em Vinhedo, no interior do estado, às 13h22. Todos morreram.
Entre as vítimas: Liz Ibba, de 3 anos. Ela viajava com o pai, Rafel Santos, que a buscava para passar os dias dos pais em Florianópolis. Foi a última despedida. Desde então, foram 365 dias de uma vida inteira de saudade.
A médica Arianne Albuquerque, de 34 anos, trabalhava no Uopeccan, em Cascavel, e estava se especializando em oncologia. Ela participaria de um congresso em Curitiba.
O destino da nutricionista Ana Redivo era Nova York, para comemorar os 31 anos que ia completar no dia 12 de agosto.
Para os familiares, um passo de cada vez, cambaleando, tropeçando, mas seguindo. O sentido de "viver" foi substituído: deu lugar a "aguentar", "se manter", "sobreviver".
Liz Ibba: vida intensa, feliz, mas breve. A vida da pequena, 3 anos, foi interrompida. O cuidado, o abraço, o carinho, o colinho, ficaram na lembrança. O que resta é "imaginar" como será que a mini Ibba estaria hoje?
O contraste de emoções dos familiares é constante. Os sentimentos são instáveis. Força e determinação, invadidos pelo choro, pela fragilidade.
A Agência Nacional de Aviação Civil decidiu, em junho deste ano — 10 meses após o acidente — de forma definitiva, cassar o Certificado de Operador Aéreo da Voepass Linhas Aéreas após uma investigação que apontou falhas graves no cumprimento de normas de segurança operacional.
A companhia realizou, entre agosto de 2024 e março de 2025, 2.687 voos com aeronaves fora das condições mínimas exigidas de manutenção, com falhas em protocolos internos, incluindo planejamento e execução de inspeções obrigatórias em pelo menos sete aeronaves da frota.
No período analisado, a Voepass deixou de realizar ao menos 20 procedimentos obrigatórios de manutenção, comprometendo a segurança dos voos e a integridade dos passageiros. Ainda restam muitos questionamentos, dados não esclarecidos e ignorados.
Segundo a Força Aérea Brasileira, o relatório final da investigação ainda não tem data para ser divulgado pelo CENIPA (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos). No documento preliminar consta que o botão de sistema de degelo do ATR 72-500 foi acionado três vezes durante o voo de Cascavel até a queda em Vinhedo, e não funcionou. A Polícia Federal, que investiga o caso criminalmente, está na fase de coleta de depoimentos.
Enquanto aguardam por justiça, eles tentam seguir, cada um do seu jeito. Na aeronave viajava também o casal Antônio Deoclides Zini Júnior, de 40 anos, ex-goleiro de futsal e empresário, junto com a fisioterapeuta Kharine Gavlik Zini. Eles estavam indo para a Alemanha, onde Kharine ia finalizar o mestrado. Na família Zini, Júnior está eternizado no coração e na pele do irmão Jaidson.
Eles foram, mas deixaram legados. Sonhos interrompidos, planos inacabados que as famílias prometem continuar, por eles. O amor verdadeiro não morre.
Cascavelense Adriana Esteves era escrevente de cartório, também estava no voo. A filha Luíza falou sobre todas as datas e o sofrimento a cada novo dia.
Reportagem de Patrícia Cabral | JC
** Envie fotos, vídeos, denúncias e reclamações para a equipe Portal CATVE.com pelo WhatsApp (45) 99982-0352 ou entre em contato pelo (45) 3301-2642