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A bisteca como encarnação do mal - por Xico Graziano


Recente relatório da OCDE/FAO, intitulado "Perspectivas Agrícolas 2025-2034", indica crescimento de 13% no consumo mundial de carnes. Estima-se maior consumo de avícola (21%), ovina (16%), bovina (13%) e suína (5%). Pura proteína no prato.

O consumo de carnes depende, além da população e do costume alimentar, do nível de renda. Assim, espera-se que 45% do crescimento global do mercado de carnes ocorra em países como Índia, Brasil, Indonésia, Filipinas, Estados Unidos e Vietnã. Outros 33% do crescimento no consumo de carnes virá da África, puxado pela Nigéria. Menor crescimento de consumo é esperado na China, na União Europeia, no Japão e na Suíça.

A análise da OCDE/FAO comprova que o acréscimo na produtividade será o principal motor do desenvolvimento sustentável do setor de carnes no mundo. A melhoria nos pesos de abate será responsável por 8%, 27% e 19% dos ganhos na produção de carne bovina, suína e de aves, respectivamente. O avanço tecnológico, incluindo melhoria genética, arraçoamento e confinamento, reduz a idade e eleva o peso médio de abate dos animais.

Na agenda ambiental, diferentemente do que supõem os críticos, estima-se uma queda acentuada na pegada de carbono oriunda da criação animal. Para um crescimento estimado de 13% na produção pecuária, espera-se que as emissões de gases de efeito-estufa se elevem em apenas 6%. É sensacional.

Tal evidência científica contrasta com antigas fofocas ecológicas que culpam a boiada pelo fim do mundo. Pelo contrário, a OCE/FAO enaltece a atual transformação sustentável das cadeias produtivas da pecuária.

Cada ser humano coma o que desejar. Ser vegetariano ou vegano é uma decisão pessoal a ser respeitada. Agora, negar a alimentação animal em nome da salvação da humanidade significa condenar a história.

Desgraça é ver esse negacionismo influenciar políticas públicas, como temos visto ocorrer nas conferências ambientais promovidas pela ONU. A visão da pecuária como vilã do clima levou, por exemplo, ao corte de 40% da carne no cardápio das refeições a serem servidas na COP30, a ser realizada em Belém, no Pará.

É bizarro. Tem gente que acredita que abandonar o consumo de carne trará benefícios à sociedade mundial, onde perto de 800 milhões de pessoas ainda passam fome. Pior, fazem do vegetarianismo uma arma contra o moderno agronegócio.

Parece piada, mas é verdade. Podem pesquisar na internet. Tem maluco que trata o boi como um sórdido capitalista. E o trigo como dócil socialista.

Topei com esse raciocínio esquisito pela 1ª vez ao participar, em 2009, da COP15, realizada em Copenhague, na Dinamarca. "Evite carne e salve o mundo" era o mote de uma maciça campanha de marketing, com folhetos, bonés e tudo mais, envenenando nossas mentes com argumentos inverossímeis e tolos. Uma "aliança" de ONGs a promovia.

Então secretário estadual de Meio Ambiente de São Paulo, no governo de José Serra, impressionei-me com aqueles cálculos que condenavam fortemente a eructação (arroto) de metano dos bovinos mas nada falavam sobre o enorme volume de metano produzido das lavouras de arroz irrigado. Metano do arroz pode, da boiada, não.

O raciocínio não fica de pé. Dizem, ademais, que além de causar o aquecimento planetário, consumir carne gasta muita água e utiliza muita terra. Será?

Atualmente, aproximadamente 70% da área mundial ocupada no agro está dedicada à produção de alimentos animais, seja diretamente em pastagens, seja em grãos (soja, milho e sorgo) destinados às rações.

Acontece que a maior parte das pastagens mundiais se encontram em solos pedregosos, acidentados e áridos, onde milhões de pequenos pastores criam caprinos, ovinos e gado leiteiro. Tais áreas não se prestam ao cultivo de lavouras.

Se, por hipótese, a alimentação humana deixasse de contemplar gêneros animais, causaria um tremendo desemprego nos campos. Ou seja, trocaríamos as carnes e o leite por mais miséria e subnutrição alhures. Tal argumento mito está desenvolvido no livro "Agricultura, fatos e mitos" (capítulo 257, A hipótese vegana).

Concluo, repetindo: estilo de vida e preferência alimentar não se condenam. Insulta, porém, a inteligência, tratar a bisteca como encarnação do mal.


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