A maior dor de cabeça dos agricultores brasileiros está na falta de trabalhadores para a produção rural. Fala-se, em todas as regiões, para qualquer atividade, em um apagão de mão de obra no campo.
No Norte do Mato Grosso, onde passei uns dias recentemente, escutei o Sérgio, pequeno e antigo horticultor do município de Sorriso, reclamando que sua vida estava uma dureza porque não conseguia recrutar 2 auxiliares para lhe ajudar na lida de seus canteiros.
Eu fazia uma visita ao sítio dele, com 10 hectares de plantação, situado no assentamento Vale do Celeste, município de Vera (MT). "Quando eu parar, ninguém irá continuar nossa produção", me disse. "Não sei de onde virá a alface, o cheiro-verde, o quiabo, a rúcula", arrematou o exemplar agricultor, já passado dos 50 anos. Deixou-me intrigado.
"E os filhos?", perguntei. "Sei não, ninguém mais quer saber dessa vida na roça, morando distante da cidade, trabalhando sem horário de parar. Um deles me ajuda na irrigação, o resto é por nossa [ele e sua mulher] conta", respondeu. Sua mulher, dona Nina, além de calejar as mãos no sítio, vai todos os dias para a cidade cuidar da venda dos produtos.
O Sérgio e a Nina foram recentemente certificados com um selo de identificação de origem, atribuído pelo CAT (Clube Amigos da Terra), de Sorriso. A certificação assegura boas práticas agrícolas, incluindo sustentabilidade, aglutinando um grupo de 15 agricultores familiares da região. O objetivo é valorizar o produto local, fazendo um apelo de marketing aos consumidores.
Puxado pelo agro, aquela região do Mato Grosso está registrando um fantástico surto de progresso, atraindo muita gente. Conforme já argumentei na semana passada, anda aquecida a demanda por alimentos frescos, principalmente frutas e hortaliças, garantindo bons preços aos produtores, que são poucos. O que produzir, vende bem.
Só que a expansão da produção agrícola local está sendo travada pela disponibilidade de mão de obra. Disse-me Sérgio que a única alternativa dele tem sido arregimentar trabalhadores no Maranhão, mas com pouco sucesso. Eles vêm, ficam uns meses, ganham um dinheiro, depois retornam. Os que permanecem, se deslocam para atividades urbanas.
Nesse contexto, a economia agrária ensina 2 coisas:
Consequentemente, irá prevalecer uma tendência pela mecanização das atividades agrícolas, substituindo o emprego por tecnologia. Será inevitável: haverá uma crescente intensificação da produção, delineando por lá o futuro da fruticultura e da horticultura.
O apagão de mão de obra no campo afeta também as atividades da grande produção empresarial, que demanda operadores qualificados de máquinas, técnicos especializados e gerentes de processos, mas não os encontra facilmente. Em consequência, os salários situam-se em patamar mais elevado que a média nacional. Soube que um simples operador de drone, utilizado no controle fitossanitário de pomares, tira no mínimo R$ 15.000 por mês. É uma baita remuneração.
Muito bem. Essa realidade coloca desafios à pequena produção familiar no campo, em todo o país. Estufas climatizadas, irrigação, robotização, utilização de drones, capinas mecânicas e químicas, adensamento de pomares, tudo isso eu notei na região de Sorriso (MT), indicando o surgimento de uma nova agricultura familiar, não mais aquela da enxada e do sofrimento, mas a da tecnologia e da lucratividade.
É o puro, e valoroso, agronegócio familiar. Pequeno no tamanho, elevado na tecnologia, grande no valor da produção.
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