A ltamente desafiador. Essa é pronta resposta a quem me questiona sobre qual o cenário de 2024 para o agro brasileiro. Depois de um ciclo virtuoso, houve um tranco no campo.
Tempo de sofrimento, tempo de aprendizado. Quem trabalha com gestão está cansado de saber: na época de vacas gordas é comum relaxar no controle de custos, perdendo eficiência. Elevada margem tende a atrapalhar a boa administração.
Perigos rondam o lucro fácil. Assim se explica a decadência da agricultura europeia. Fartos subsídios governamentais passaram, há meio século, a assegurar sua renda, independentemente de sua excelência produtiva.
Aquilo que, no início da Política Agrícola Comum, chegou como um remédio para os agricultores europeus, passou com o tempo a se tornar um veneno. Por quê?
Por provocar acomodação gerencial e, consequentemente, queda na capacidade empreendedora. Em contraposição, o avanço tecnológico, principalmente na agricultura de larga escala, ocorrido em países como o Brasil, levou-os à perda de competitividade.
Limitados pelo pequeno tamanho de suas áreas, os produtores rurais europeus não conseguiram se reinventar fora da benesse pública. Tornaram-se, assim, dependentes do Estado. Envelheceram e passaram a botar a culpa nos outros pelas suas agruras, sem conseguir olhar para o próprio umbigo.
A relativa decadência da agricultura europeia serve de lição: o fracasso, paradoxalmente, reside próximo da prosperidade.
O agro brasileiro passou por uma série de anos favoráveis nas últimas duas décadas. Ganhou dinheiro, cresceu. Passamos a liderar boa parte das exportações mundiais. Graças a esse desempenho favorável, o país segurou a onda do crescimento econômico, conseguindo interiorizar seu desenvolvimento.
Agora, porém, virou a chave. Por variadas razões, incluindo as climáticas, um malvado alicate está comprimindo a renda rural pela perda de safra junto com queda dos preços agrícolas internacionais.
Qual será o tamanho da crise? Em um país continental, de complexa agropecuária, inexiste resposta única. A situação ainda carece de elementos para ser mais bem avaliada. Tudo indica, entretanto, que será alta a inadimplência junto aos bancos. Compromissos de pagamento terão que ser prorrogados e novos créditos, ofertados.
Nota-se um movimento de grandes empresas do agro em direção ao processo de RJ (recuperação judicial). É deveras preocupante. Quem é pessoa jurídica irá se salvar; o produtor rural, se pego no contrapé, sem seguro, pode quebrar.
Quero aproveitar o crítico momento para destacar uma diferença essencial entre o agricultor europeu e o brasileiro: lá, eles se acomodaram, e ficaram para trás; aqui, devem pagar o preço de serem impetuosos.
Ocorre que a tremenda expansão que vimos no agro verde-amarelo contou com a vantagem da abundância de terras aráveis, ainda virgens, existentes nas fronteiras do país.
O agricultor, capitalizado anualmente, comprava novas terras, ampliando a produção sem parar. Rivais faziam uma espécie de campeonato de maioral.
Mas o ditado popular é certeiro: não há mal que nunca se acabe, nem bem que dure para sempre. Resultado: parte dos produtores rurais, no Centro-Oeste especialmente, irá demonstrar um clássico problema causado pela sua ousadia sem limites: elevado patrimônio e baixa liquidez. Vai zerar o caixa.
O brilhante professor Marcos Fava Neves não se cansa de pregar que é essencial "ficar melhor antes de ficar maior". Chegou a hora do sábio conselho ser adotado pelo agro brasileiro.
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