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Ecologistas radicais costumam ser anti-históricos,analisa Xico Graziano

Simplórios, não olham para seu umbigo culpam agricultores pela "devastação"


Publiquei nesses dias um vídeo mostrando uma enorme manada de porcos-do-mato (queixadas) correndo em meio a uma lavoura de soja. Junto com javalis e javaporcos, esse bichões viraram, em muitas regiões do país, um tormento para o agricultor. Configuram, também, um problema ecológico no campo, pois suas populações se desequilibraram pela farta oferta de alimento local. Os javalis, principalmente, comem de tudo - milho, ovos, raízes, filhotes de passarinho, galinhas, patos - fuçam nascentes, transmitem doenças. Desgraçam a natureza. Grande parte da reação ao meu post defendeu a caça desses animais e a consequente destinação de sua carne, que é saborosa, ao mercado. Só que a caça está proibida no Brasil. No caso dos javalis, por ser espécie exótica, oriunda da fauna europeia, seu abate controlado é permitido pelo Ibama. Mas a comercialização da carne, não. Um grupo expressivo de internautas, ao contrário, tomou as dores dos animais, condenando a agricultura por esta ter invadido os espaços naturais. Para eles, culpado pelo desequilíbrio ambiental é o produtor rural. "A terra é deles, não nossa", me escreveu alguém. Há que se dar razão aos preservacionistas. As queixadas, realmente, já estavam lá, no meio do mato, muito antes de chegarem os agricultores. Viviam felizes comendo minhocas e frutos caídos das árvores. Volta e meia uma onça os devorava, mas fazia parte do jogo ecológico na Terra. Só que existe um problema: o raciocínio dos preservacionistas se aplica também para a praia de Copacabana, Itapuã, a avenida Paulista, esplanada dos ministérios, os botecos da Vila Madalena, Ipanema, onde quer que exista ocupação humana. Em todos esses locais a bicharada, e de quebra muitos índios, foram desalojados pela civilização. Ecologistas radicais costumam ser anti-históricos. Imaginam manter a natureza imaculada a despeito de existir uma espécie terrivelmente dominadora na Terra: os seres humanos. Que se multiplicam sem parar. Curiosamente, porém, esses ecologistas simplórios olham somente para seu umbigo, que reside nas poluídas metrópoles. Preferem culpar os agricultores pela "devastação", como se estes carregassem uma maldade inata. Desde o Império Romano, ou antes, a expansão civilizatória rouba territórios naturais para alimentar a população humana. Na Europa, a primeira grande revolução agrícola do século 19 desmentiu Malthus derrubando florestas, avançando sobre os pântanos, recuando o mar. Não poderia ter sido diferente. A história humana tem sido a história do domínio sobre a natureza. Mitigar os efeitos da pegada ecológica sobre o planeta representa o presente, e enorme, desafio da humanidade. Nesse contexto, formulou-se o conceito-chave para o futuro: a sustentabilidade. Agricultura sustentável significa exatamente isso: via avanço tecnológico, conseguir produzir e preservar ao mesmo tempo. Só produzir virou passado, só preservar não tem sentido. Aqui entram os bandos de porcos-do-mato. Ao respeitar o Código Florestal, os produtores rurais mantêm, regra geral, entre 20% a 35% da propriedade coberta com matas nativas. Elas abrigam as manadas dos dentuços que encontram, na lavoura ao lado, o banquete. Na Suécia, na Austrália, nos Estados Unidos, em muitos países se praticam variados controles de espécies animais - lobos, ursos, cangurus, coelhos - visando manter equilibrado o ecossistema da produção rural. Trata-se de um curioso, e difícil, desafio contemporâneo do agro. É insano condenar o agricultor. Todos nós temos culpa nessa história. Das duas, uma: ou se controla, da forma conveniente, a população dos porcos-do-mato, ou então se reduz a demanda por alimentos. Fora disso, é diversionismo. Até me sugeriram uma terceira saída: criar onças. Elas predariam os catetos e, de quebra, jantariam algum tratorista. Tomei como piada.

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