Política

Mães cobram CPI para apurar falhas em casos de abuso dentro de CMEI em Cascavel

Carta aberta aponta falhas graves em processos administrativos e alerta para riscos à segurança das crianças


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Um grupo de mães de alunos vítimas de abuso sexual dentro de um CMEI em Cascavel divulgou uma carta aberta às autoridades, à imprensa e à sociedade. No texto, elas denunciam a demora nas medidas adotadas pela prefeitura diante de denúncias graves que envolvem servidores da rede municipal.

O documento destaca que, mesmo após denúncias de abuso contra crianças, um dos servidores investigados permaneceu por anos atuando dentro de uma instituição de ensino. O caso mais conhecido, do servidor apelidado de "Professor Monstro", levou quase quatro anos (1.366 dias) para ser concluído. O funcionário já foi condenado pela Justiça, mas ainda tenta reverter a decisão com recursos.

A carta lembra que por lei os Processos Administrativos Disciplinares (PADs) não poderiam ultrapassar 120 dias. No entanto, os casos envolvendo crianças foram justamente os que mais demoraram a ser encerrados. O caso de um suposto abuso durante a hora do soninho, por exemplo, tramitou por 849 dias.

Segundo o grupo de mães, houve negligência por parte da primeira comissão responsável por analisar os casos. Essa conduta foi apontada por uma segunda comissão que revisou o trabalho anterior.

A Prefeitura de Cascavel ainda não se pronunciou sobre os apontamentos feitos na carta. As mães agora cobram dos vereadores uma postura mais firme. Elas pedem a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) com escopo ampliado, para investigar não apenas o caso do "Professor Monstro", mas todos os PADs envolvendo denúncias contra servidores da educação desde 2016.

"Esse episódio não é isolado. Ele faz parte de um histórico preocupante de omissões institucionais", diz a carta assinada pelo movimento "Cascavel Mais Segura" e por representantes da sociedade civil.

A carta termina com um apelo às autoridades e à imprensa para que não se calem diante da dor das vítimas. O grupo promete apresentar provas e indícios de falhas graves na condução dos processos em uma coletiva de imprensa.


CARTA ABERTA ÀS AUTORIDADES DE CASCAVEL, À IMPRENSA LIVRE E À

SOCIEDADE

Cascavel, 08 de junho de 2025

> "Uma cidade que fecha os olhos para o sofrimento de suas crianças está fadada a repetir seus erros mais sombrios."

Com esta frase, iniciamos esta carta — não como militantes ou adversários políticos, mas como pais, mães, educadores e cidadãos de Cascavel, profundamente preocupados com o que vem acontecendo em nossa cidade.

Desde 2019, ao menos 12 Processos Administrativos Disciplinares (PADs) envolvendo suspeitas de abusos sexuais foram instaurados no âmbito da rede municipal. Cinco deles envolvem diretamente crianças.

Três desses casos são de abuso sexual contra vulneráveis, supostamente cometidos por agentes de apoio. Outro trata de assédio a alunos. E o mais perturbador: um caso de possível abuso contra uma aluna durante a hora do soninho.

Todas essas informações constam na resposta oficial da Controladoria-Geral do Município ao Requerimento 141, protocolado pelos vereadores Everton e Xavier. Graças à atuação desses vereadores, também foi possível verificar, com dados oficiais, o tempo de duração de cada processo. E o que mais nos chocou: os PADs que envolvem crianças foram justamente os que mais demoraram a ser concluídos.

O caso conhecido como "Professor Monstro" levou 1.366 dias para ser finalizado. O processo do suposto abuso na hora do soninho demorou 849 dias. O caso de suposto assédio a alunos, 721 dias.

Por lei, nenhum desses processos poderia ultrapassar 120 dias.

Até hoje, não sabemos se os acusados permaneceram em sala de aula durante as investigações — como aconteceu no caso do Professor Monstro — nem se houve falhas graves em outros procedimentos.

E mais: quantos casos sequer foram oficialmente registrados? Quantas denúncias foram negligenciadas? Quantas mães e pais ficaram sem acolhimento? Há relatos de que reclamações feitas ao CMEI do Canadá, por exemplo, foram ignoradas.

Diante de tudo isso, recebemos com esperança o anúncio de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). No entanto, é preciso dizer com firmeza:

A sociedade não aceitará uma CPI limitada a um único caso, como o do Professor Monstro. Esse episódio não é isolado. Ele faz parte de um histórico preocupante de omissões institucionais. 

A CPI precisa ser ampla, séria, transparente e comprometida com a verdade. Deve solicitar à Controladoria-Geral um levantamento detalhado de todos os PADs desde 2016, ouvindo profissionais, mães, pais e vítimas. Só assim poderemos romper com o ciclo de silêncio e recuperar a confiança da sociedade nas instituições públicas. 

Afinal, é justamente esse o papel de uma CPI: investigar onde o sistema falhou, quando começou essa verdadeira epidemia de suspeitas de abuso nas escolas municipais, se foi em 2019 ou se esse quadro vinha desde 2016 e quem foram os responsáveis por cada ato na administração pública, e que, uma vez identificadas responsabilidades, as devidas providências legais e administrativas sejam tomadas.

Por isso, pedimos: 

Ao atual Prefeito Municipal, que se comprometa com a verdade, doa a quem doer;

À Câmara de Vereadores, que amplie o escopo da CPI e assegure sua independência;

À SEMED e à Controladoria, que apresentem todas as portarias, ofícios, comunicações internas e documentos que identifiquem os responsáveis por cada ato administrativo;

Ao Ministério Público, que atue com firmeza na proteção da infância e na responsabilização dos culpados; 

À Imprensa, que siga iluminando as sombras que há tempo se formaram em nossas escolas;

À sociedade cascavelense, que não se cale. Que não desvie o olhar. Que fique ao

lado das crianças. Por fim, convidamos a imprensa para uma Coletiva, onde apresentaremos provas e

indícios de falhas na condução dos processos e na interpretação das leis municipais. Nosso objetivo não é manchar reputações, mas sim contribuir para uma

cidade mais justa, segura e responsável. Nenhuma criança pode ser esquecida. Nenhuma voz deve ser abafada. Nenhuma

dor deve ser ignorada. 

Com respeito e urgência,

Movimento Cascavel Mais Segura e Sociedade Civil

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