A última reunião de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI), realizada em abril de 2025 em Washington, expôs os dilemas globais que ecoam diretamente no Brasil: um cenário de guerra comercial, desaceleração econômica e pressões fiscais. Sob o pano de fundo do retorno de Donald Trump à presidência dos EUA e de um sistema multilateral em crise, o evento trouxe alertas e contradições que desafiam a política econômica brasileira.
1. O "Tarifaço" de Trump e os riscos para o comércio global
O principal tema em Davos foi o impacto das tarifas comerciais impostas por Trump, que atingiram patamares históricos em abril de 2025, especialmente contra a China. Christopher Garman, da Eurasia Group, destacou que, embora haja sinais de recuo nas sobretaxas, o dano já está feito: os EUA caminham para uma recessão, e o PIB global deve cair de 3,3% em 2024 para 2,8% em 2025. Para o Brasil, há um paradoxo: o enfraquecimento do dólar pode aliviar pressões cambiais, mas a desaceleração chinesa — principal parceiro comercial do país — ameaça exportações de commodities como soja e minério de ferro.
2. A bomba relógio fiscal Brasileira
Enquanto o mundo discutia tarifas, o FMI disparou um alerta vermelho para o Brasil: a dívida pública bruta deve saltar de 87,3% do PIB em 2024 para 92% em 2025, aproximando-se do patamar crítico de 96% visto durante a pandemia. O relatório *Monitor Fiscal* criticou a falta de medidas adicionais de ajuste, apontando que, sem reformas, a dívida pode chegar a 99,4% do PIB em 2029. O governo Lula, porém, insiste que o problema são os juros altos, não o gasto primário — uma narrativa que ignora o risco de desconfiança dos investidores e agências de rating.
3. O Brasil no tabuleiro geopolítico: entre os EUA e os BRICS
A reunião também evidenciou a estratégia brasileira de diversificar alianças. Enquanto os EUA pressionam aliados a reduzir laços com a China, o Brasil buscou fortalecer o BRICS, propondo um "hub" de infraestrutura com garantias financeiras. A secretária Tatiana Rosito (Fazenda) destacou a necessidade de uma "ordem baseada em regras" — uma crítica indireta ao unilateralismo de Trump. No entanto, a dependência de commodities e a vulnerabilidade fiscal limitam a capacidade do país de liderar essa agenda.
4. O FMI e a austeridade: um fantasma que persiste
Apesar da evolução do FMI em reconhecer a importância do gasto social, suas projeções para o Brasil reforçam a velha dicotomia: ou o país ajusta as contas ou enfrentará crises de credibilidade. O ministro Haddad descarta novos cortes, mas o Fundo insiste que a trajetória da dívida é insustentável. A tensão reflete um histórico de relações conturbadas, como no caso de Lula, que em 2023 chamou a diretora Kristalina Georgieva de "mulherzinha" após críticas ao crescimento brasileiro.
Conclusão: Brasil na corda bamba
A reunião do FMI deixou claro que o Brasil navega em águas turbulentas. Por um lado, a guerra comercial e a desaceleração global podem reduzir pressões inflacionárias no curto prazo. Por outro, a crise fiscal e a dependência de commodities são vulnerabilidades estruturais. Se o governo não equilibrar o discurso desenvolvimentista com responsabilidade fiscal, o país pode reviver os anos 1980 — quando a dívida externa e o FMI ditavam a agenda econômica. A pergunta que fica é: Lula está disposto a ouvir o Fundo, ou repetirá os erros do passado?
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