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Globalização em xeque? - Por Ayslan Guetner

Donald Trump ameaça inviabilizar o comércio internacional


O "tarifaço" divulgado por Donald Trump nesta quarta-feira (02/04), reacendeu o debate sobre os rumos do comércio global, com economistas e analistas divergindo sobre os reais impactos da medida. Neste momento, no entanto, o mercado compra a narrativa de que a medida possui potencial de transformar a conjuntura econômica global e, inclusive, vinha preparando-se (ajustando posições) para o anúncio a cerca de dez dias.

O anúncio feito pelo presidente americano estabelece uma alíquota mínima de 10% sobre as importações feitas de todos os países, com acréscimos proporcionais às barreiras que cada nação impõe aos produtos dos EUA. O Brasil foi contemplado com a tarifa mínima, enquanto alguns países sofrerão com a incidência de alíquotas de quase 50%, por exemplo.

Em resumo, o cenário fica mais desafiador para nações que promovem o crescimento da economia por meio da indústria, como o Vietnã, por exemplo. O país tem uma grande planta industrial, e o destino da maioria dos produtos vietnamitas são os EUA. Por exemplo, 40% dos tênis da Nike que estão nos pés dos americanos vieram do sudoeste asiático.

E, como um dos objetivos do governo americano é revitalizar a manufatura nos Estados Unidos, o Vietnã será tarifado em 46%. Neste sentido, o Brasil acabou sendo premiado por sua insignificância global do ponto de vista industrial. Uma vez que o Brasil optou por desindustrializar-se nos últimos 40 anos, o país "pouco incomoda" os Estados Unidos. Assim, o Brasil pode ser marginalmente favorecido com a medida anunciada por Donald Trump, pois poderemos observar um aumento das exportações para outros países.

Um bom exemplo de como nosso país pode ser beneficiado está no discurso de Trump, onde disse que, caso a Austrália não deixe a carne bovina americana adentrar em território australiano, a carne australiana não entrará nos EUA. Isso seria extremamente benéfico para o Brasil, que detém outro grande rebanho do mundo e pode ganhar mais espaço no globo.

Além de fortalecer a indústria americana, a justificativa para a implementação das tarifas está na intenção de corrigir desequilíbrios comerciais e recuperar os empregos fabris americanos. Na prática, os cidadãos dos EUA devem observar um aumento generalizado de preços e o enfraquecimento do dólar, visto que a conjuntura econômica atual aponta ainda para uma recessão econômica de curto prazo.

Mas afinal, a globalização está em xeque? Ainda é muito cedo para avaliar possíveis consequências, e o mercado aguarda agora o posicionamento das demais nações. A ironia, no entanto, está em observar um país que cresceu e tornou-se a maior potência econômica do mundo promovendo a globalização, fechando-se, adotando uma estratégia muito parecida com a que já deu errado na década de 1930. Com Donald Trump o mercado tem apenas uma certeza: a volatilidade está garantida.


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