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Na contramão do mundo - por Ayslan Guetner


O ano de 2024 iniciou-se com a expectativa de que o mercado internacional direcionasse boa parte de suas apostas aos países emergentes. A tese fundamentou-se na conjuntura econômica da qual o globo encontrava-se no final de 2023. A surpreendente mudança de discurso do presidente do banco central norte-americano, Jerome Powell, após o anúncio da decisão de política monetária no mês de dezembro/23, encorajou os investidores a comprarem a tese de que a batalha contra a inflação estava vencida. E, realmente, pela primeira vez em meses, os dados de atividade econômica, desemprego e inflação dos Estados Unidos sustentaram a narrativa de que havia, de fato, uma desinflação saudável e uma atividade econômica resiliente. Portanto, a declaração de J. Powell, que até então não explicitava a possibilidade de o banco central realizar um afrouxamento monetário no curto prazo, era o que faltava para que a tese de "pouso suave" prevalecesse entre os investidores e para que o rali de fim de ano se iniciasse nos principais mercados acionários do mundo.

Esse foi o combustível para que o principal índice de ações do mercado brasileiro, o Ibovespa, superasse a barreira, até então histórica, dos 130 mil pontos. Assim, após Jerome Powell deixar subentendido em seu discurso feito em dezembro/23, de que a preocupação com o crescimento econômico de 2024 deveria prevalecer ante a inflação, os investidores voltaram a analisar os países emergentes com o viés de possibilidade de maximização de retorno financeiro. Isso porque a declaração do presidente do banco central norte-americano sugeriu que o ciclo de cortes da taxa básica de juros dos Estados Unidos fosse iniciado antes do previsto pelos agentes de mercado. E, para os países emergentes, que iniciaram o ciclo de aperto monetário antecipadamente, passariam a contar com a possibilidade de acelerar o ritmo dos cortes das suas taxas de juros em suas decisões de política monetária.

Diante deste cenário, com os investidores atentos aos países emergentes, era consenso no mercado de que o Brasil seria um dos principais beneficiados. Pois, até então, os investidores externos não possuíam um olhar extremamente crítico como os investidores locais. Ou seja, compreendiam que o Brasil possuía problemas que qualquer país emergente possui, mas se destacava dos seus pares por possuir reservas internacionais robustas; balança comercial superavitária; e uma população de +210 milhões de habitantes, o que significa que existe um grande mercado consumidor interno. Além destes fatores, o real apresentava a menor volatilidade em anos - o que é muito valorizado pelos investidores internacionais - e, considerando as expectativas de juros e inflação que tínhamos até então, possuíamos um dos maiores juros reais do mundo.

A conjuntura econômica do final de 2023 somada aos fundamentos técnicos, que refletiam - e ainda refletem - a tese de que o preço das ações das empresas brasileiras não representava seu real valor de mercado, embasaram minha narrativa de que o fluxo para os ativos de renda variável seria mais intenso no início do ano. As principais beneficiadas, no meu entendimento, seriam as ações de menor capitalização (small caps), por apresentar maior margem de ganho diante da expectativa de cortes da nossa taxa de juros.

A primeira ducha de água fria, no entanto, veio logo no primeiro mês de 2024, com os dados de atividade econômica e inflação nos Estados Unidos chamando a atenção. Ainda no primeiro trimestre, o mercado questionou-se sobre haver, de fato, um processo de desinflação americano. Com a inflação dando novos sinais de aceleração e o board do Federal Reserve adotando um discurso cauteloso, o mercado ajustou suas expectativas e, assim, o início do clico de corte das taxas de juros americanas, previstas para começar em março, foi adiado. Esse foi o primeiro gatilho para que o mercado internacional revisse sua estratégia de posicionamento em países emergentes.

Em abril, quando o cenário econômico internacional exigia maior resiliência e solidez dos países emergentes, o governo brasileiro explicitou seu descompromisso com a responsabilidade fiscal do país. Este foi o principal detrator da tese, relativamente otimista, em relação ao Brasil, que havia no final de 2023 e permita ao mercado financeiro visualizar o "como meio-cheio" em relação aos ativos financeiros brasileiros.

A partir de então, praticamente todos os eventos passaram a ser questionados pelo mercado e a confiança no governo do Brasil foi colocada em xeque. O tema "risco fiscal" continua sendo o tema mais mencionado nas análises dos especialistas e deve ser amplamente abordado também em 2025. Este foi o grande motivo para realização de lucros e reposicionamento dos grandes players de mercado, que embalaram o fluxo de retirada de dinheiro do Brasil, praticamente zerando o fluxo positivo de aproximadamente BRL 40 bilhões do final do ano anterior.

O movimento de reposicionamento foi impulsionado pela revisão dos dados econômicos dos Estados Unidos, que refletiam uma economia americana mais aquecida do que se imaginava, mesmo diante de uma taxa de juros de 5% ao ano (alta para os padrões americanos). Portanto, durante o ano de 2024, os ativos brasileiros concorreram com a excepcionalidade da economia americana, com a eleição de Donald Trump e as incertezas provocadas pelo aumento das tensões geopolíticas. Contaram ainda com a dificuldade de diversificação de crescimento econômico da China e com a total falta de credibilidade no governo brasileiro.

O trabalho feito pelo banco central do Brasil nos últimos dois anos permitiu que o país iniciasse o ano de 2024 à frente dos bancos centrais dos países desenvolvidos, ou seja, com maior possibilidade de intensificar o ritmo de corte da nossa taxa básica de juros. Porém, o estímulo fiscal promovido pelo governo do Brasil, que têm feito com que as expectativas de inflação se deteriorem, obrigou o Bacen a arremeter enquanto o processo inverso está em curso nas maiores economias do globo, o que faz com que o cenário seja ainda mais desafiador.

Assim, o ano de 2025 inicia-se com o mercado questionando duramente a qualidade do crescimento econômico do Brasil. As consequências de se impulsionar o crescimento de uma economia por meio do endividamento e do gasto público são conhecidas pelo mercado e, portanto, o crescimento muito superior às expectativas do início do ano (acima dos 3%, quando a expectativa era de um crescimento aproximado de 1%), não empolga. Contrariamente, os preços dos ativos brasileiros, a dificuldade enfrentada pelo Tesouro nos leilões de títulos públicos e a desvalorização recorde da nossa moeda refletem a preocupação com uma crise econômica do nível da que ocorreu em 2015, sob o comando de Dilma Rousseff.

Nesse sentido, o custo de oportunidade precisa necessariamente ser inserido na equação dos investidores em 2025. Na última decisão de política monetária divulgada pelo Copom em dezembro/24, o comitê anunciou que, em março do ano seguinte, a taxa básica de juros deve superar os 14% ao ano, com parte significativa do mercado projetando uma Selic, em seu término de ciclo de alta, na casa dos 16%. Isso significa que, considerando o índice Ibovespa como referência do mercado de risco brasileiro, em termos nominais, os investidores devem esperar, no mínimo, o índice cotado a 145 mil pontos ao final do ano para justificar sua exposição ao risco.

Diante disso, até que haja uma espécie de "freio" por parte do governo no que diz respeito às contas públicas, os investidores locais devem concentrar suas posições em ativos de renda fixa pós-fixados, preferencialmente isentos de tributação. O ano também deve iniciar com os investimentos atrelados à variação do índice oficial de inflação, o IPCA, apresentando uma ótima relação risco/retorno e ganho real considerável. No curto prazo, entretanto, é preciso estar preparado para eventuais correções desses títulos à medida em que a curva de juros se estabilize.

Uma boa estratégia é alocar também parte dos recursos em ativos que possuem alta liquidez para realizar um melhor posicionamento no momento que haja maior grau de previsibilidade. Considerando o nível de desconto dos ativos brasileiros, uma melhora dos fundamentos econômicos, por mínima que seja, pode ser capaz de representar boas oportunidades de ganho via fluxo de investimento (força compradora), e investidores que possuírem liquidez poderão se aproveitar desse momento taticamente. Enquanto a tendência não se evidencia, o investidor é bem remunerado pelo CDI.

Penso que os fundamentos de longo prazo sempre devem prevalecer, mas a alocação tática também é importante no processo de consolidação, proteção e multiplicação de patrimônio ao longo do tempo. Desde modo, 2025 deve motivar os investidores a realizar o rebalanceamento do seu portfólio, com objetivo de diminuir a exposição ao risco no mercado brasileiro e garantir uma rentabilidade atrativa por meio de ativos tidos como livres de risco. De todo modo, penso que 2025 representa uma ótima oportunidade para os investidores que queiram experimentar a vivência mais intensa e dinâmica no mercado financeiro, que pode ser feita por meio da exposição em investimentos alternativos e ativos internacionais.

O ano de 2024 iniciou-se com os investidores permitindo-se conceder o benefício da dúvida ao governo federal. Entretanto, ao explicitar seu comprometimento exclusivo com a reeleição por meio de ações consideradas populistas, a onda de pessimismo com relação aos fundamentos econômicos brasileiros tomou conta do mercado. Esse sentimento deve permanecer no início de 2025 e, talvez, o principal gatilho para uma melhora dos ativos de risco no curto prazo, seja o mercado comprar a narrativa de uma possível troca de governo nas eleições presidenciais de 2026.


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