O investidor global assiste, entre perplexo e fascinado, à resiliência quase inexplicável da economia americana. Com juros ainda próximos dos 5% ao ano, uma dívida pública que supera os US$ 35 trilhões e um ambiente externo marcado por conflitos geopolíticos, desaceleração da China e crescimento fraco na Europa, os Estados Unidos continuam entregando uma performance econômica que desafia os modelos clássicos.
É o que alguns já chamam de "excepcionalismo econômico americano". Não se trata apenas de otimismo — os dados têm sustentado essa narrativa.
O PIB cresceu 2,1% no segundo trimestre de 2025, superando as expectativas. O consumo das famílias, mesmo com crédito mais caro, ainda avança em ritmo saudável. O mercado de trabalho continua sólido, com a taxa de desemprego em 4,2%, e o núcleo da inflação (core PCE), que é o principal indicador observado pelo banco central dos EUA, caiu para 2,3% em 12 meses, já muito próximo da meta.
Em outras palavras, a economia dos EUA está absorvendo juros elevados por um período prolongado sem colapsar. Algo raro. Mais raro ainda é ver isso acontecer enquanto o governo roda déficits fiscais massivos, com o custo da dívida pública batendo recordes: só os juros pagos pelo Tesouro americano em 12 meses já superam US$ 1 trilhão, maior patamar da história.
Diante disso, o investidor se vê diante de um dilema.
Por um lado, os sinais tradicionais alertam para risco de desaceleração: custo do dinheiro elevado, inadimplência no crédito rotativo subindo, margens corporativas pressionadas e déficits fiscais que podem, em algum momento, testar a confiança dos mercados. Há também a crescente preocupação com a sustentabilidade da dívida federal, cuja trajetória parece insustentável no longo prazo sem ajuste fiscal.
Por outro lado, a economia americana insiste em não desacelerar. O dólar permanece forte, os ativos continuam sendo considerados porto seguro e os EUA seguem sendo destino preferencial para capital global. E é essa capacidade de adaptação — política, tecnológica, institucional e monetária — que tem reforçado a ideia de que os EUA operam com regras próprias, acima da média dos pares globais.
A dúvida, claro, é até quando.
Será que a economia pode continuar crescendo com taxas de juros reais positivas por tanto tempo? Será que o Tesouro conseguirá continuar rolando sua dívida com prazos cada vez mais curtos e custos crescentes sem desencadear algum tipo de crise de confiança? Ou será que, mais uma vez, os EUA encontrarão uma maneira de contornar o problema, como fizeram inúmeras vezes ao longo das últimas décadas?
A resposta ninguém tem. Mas uma coisa é certa: apostar contra a economia americana tem sido uma posição cara nos últimos anos.
Enquanto isso, o investidor global segue pisando em ovos — exposto ao risco de perder o bonde da resiliência americana, mas também temeroso de que essa força seja, em algum momento, apenas o prelúdio de uma correção mais severa.
No fim das contas, não se trata apenas de interpretar dados. Trata-se de entender quão excepcionais os Estados Unidos realmente são — e por quanto tempo ainda conseguirão sustentar esse título.
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