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A banalidade do mal - por Jorge Guirado


Próximo de encerrar o ano recebo do advogado Augusto Bittencourt um texto sobre os acidentes de trânsito na cidade. Como sou um dos instrumentos de divulgação dessas ocorrências que ele expõe resolvi compartilhar aqui no blog este texto .

O texto bastante forte, duro, merece uma reflexão:

A BANALIDADE DO MAL

Hannah Arendt, a filósofa e teórica política de origem judaica, nascida na Alemanha, quando do julgamento em Jerusalém do nazista Adolf Eichmann, chegou à conclusão sobre o porquê do mal de Eichmann.

No pensar de Hannah, o mal que Eichmann praticava não era um mal demoníaco, mas era um mal constante que fazia parte da rotina dos oficiais nazistas como instrumento de trabalho.

"Ou seja, a banalidade do mal é um mal que virou comum de ser praticado."

Durante todo o julgamento, Eichmann nunca se considerou culpado pelos crimes cometidos, sua justificativa era sempre que apenas cumpria ordens, seguindo as leis vigentes naquele período. Ele sempre dizia que seguia o certo, seguia o governo e as leis do estado, por isso acreditava em sua inocência.

Mas a BANALIDADE DO MAL, não se pode dizer apenas dos crimes e atrocidades cometidas pelos nazistas durante a II Grande Guerra, quando os "SS" praticavam o mal rotineiramente cumprindo ordens, pode-se também ver essa "mesma banalidade" em situações cotidianas de nossa vida, nossa cidade, de nosso país, de nossa sociedade como um todo.

Antes mesmo do final de 2024 temos a horrenda estatísticas de 22 (vinte e duas) mortes no trânsito urbano de nossa cidade (Cascavel-PR), 22 vidas interrompidas abruptamente, jovens, mulheres, pais, mães, filhos... ou apenas números, somados à números.

É fácil ver nos noticiários diários, "mais um acidente com morte", ou "mais uma vida que se perde no trânsito da cidade", ou ainda, "infelizmente outro jovem morto em acidente"... e esta - a notícia - é a única reação que se vê, que se lê, que se escuta.

Evidente que essas mortes, esses acidentes mortíferos, tornam-se banais, "mais um motoqueiro morto", "mas um capotamento com vítimas", como se essas vítimas não tivessem uma história, não existissem no mundo real, somente no "mundo das estatísticas"

Como se essas vítimas não tivessem família, não chorassem, não se alegrassem, não exalassem sentimentos... são apenas uma estatística banal de mortes no trânsito.

E nós ... infelizmente nos conformamos com essa BANALIDADE DO MAL praticada pelos órgãos responsáveis pelo trânsito de nossa cidade, pelo chefe do Poder Executivo, pelos agentes de trânsito que... no mais sombrio dos acidentes, comentam... "o acidente foi causado por imprudência...", sim, a imprudência de quem desregula o que é regular para transformar o trânsito da cidade em um "campo de concentração onde a morte não é escolhida pelos chefes da SS, mas pela incompetência de quem não tem o mínimo respeito pela vida.

Crianças são mortas, talvez não por um veículo desgovernado, mas pela incapacidade de quem optou em fazer de um cruzamento extremamente perigoso um lugar sem sinalização adequada, tanto que, após a morte do infante, criou-se nesse mesmo cruzamento um "labirinto de sinais luminosos, placas, advertências, etc., as quais, deveriam estar lá presentes antes do fatídico acidente.

É a banalidade novamente imperando, a banalidade em permitir que a incompetência cause cada vez mais mortes, a banalidade que nos faz achar que esse mal - o trânsito regulado inadequadamente - continue matando de forma absurda, inescrupulosa, escolhendo aleatoriamente suas vítimas.

E nós, acabamos fazendo parte dessa mesma "banalidade" na medida em que aceitamos passivamente essas mortes, esses números alarmantes e ... nos reconfortamos por não ter sido a nossa vez...

Esta também é uma BANALIDADE DO MAL, a aceitação do MAL como se ele fizesse parte de nossas vidas numa escolha em um semáforo equivocamente localizado de quem vai viver ou morrer, quem chegará para o almoço com a família ou fará parte de uma estatística, quem abraçará seu filho ou nunca mais voltará para casa...

É a BANALIDADE DO MAL praticada diuturnamente por quem rege o trânsito de nossa cidade, é a BANALIDADE DO MAL que aceitamos, é a BANALILDADE DO MAL que deixamos acontecer todos os dias, e que, talvez se os responsáveis pela "desorganização do trânsito" fossem também JULGADOS em um TRIBUNAL POPULAR, as condenações por certo fariam que essas estatísticas alarmantes diminuíssem sensivelmente .

(Augusto Bittencourt/advogado)


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