Policial

Revelações: ouça áudios de cobradores mortos em Icaraíma

Dois policiais foram afastados por possível comunicação com investigados após o crime


Imagem de Capa

O que começou como uma cobrança de dívida terminou em uma execução brutal a tiros, no interior do Paraná. A Polícia Civil revelou a sequência de decisões, mensagens e encontros que levou à morte de quatro homens em Icaraíma, no dia 5 de agosto de 2025.

As investigações apontam que Alencar Gonçalves de Souza Giron teria contratado Diego Henrique Affonso para realizar a cobrança de uma dívida junto à família Buscariollo. Pelo acordo, Diego receberia 50% do valor recuperado. O problema é que o montante da dívida é cercado de contradições. Enquanto Alencar afirma que o valor seria de R$ 129 mil, a família Buscariollo apresentou notas promissórias que totalizam R$ 255 mil. Para complicar ainda mais, no início das apurações, um dos cobradores chegou a mencionar que a cobrança seria de R$ 1 milhão. A PCPR segue apurando de onde surgiu essa diferença.

Conversas recuperadas pela polícia mostram que, ainda no dia 4 de agosto, um dia antes do crime, Alencar demonstrava medo constante de sofrer represálias, afirmando que os Buscariollo teriam envolvimento com atividades ilícitas. Diego, por sua vez, tentava tranquilizá-lo, garantindo que tudo seria resolvido sem problemas.

Naquele mesmo dia, Alencar, Diego e os outros dois cobradores (Rafael Juliano Marascalchi e Robishley Hirnani de Oliveira) foram até Vila Rica, onde fizeram o primeiro contato presencial com Antônio e Paulo Buscariollo. Durante o encontro, os devedores teriam prometido quitar a dívida por meio da cessão de uma casa, mas o acordo acabou não se concretizando.

Na manhã do dia 5 de agosto, por volta das 7h, Diego enviou novos áudios à esposa relatando a frustração da tentativa anterior e revelando que um dos devedores estaria armado. Mesmo assim, o grupo decidiu retornar para tentar uma nova negociação. Ainda no fim da manhã, eles voltaram à propriedade da família Buscariollo, mas, mais uma vez, saíram sem acordo.

Às 11h47, Diego voltou a enviar mensagens à esposa, afirmando que os Buscariollo estariam se escondendo e reforçando a suspeita de envolvimento com atividades ilegais. Poucos minutos depois, às 12h04, câmeras de segurança de Icaraíma registraram a saída dos quatro homens em direção a Vila Rica, a bordo de uma Fiat Toro. Essa foi a última imagem do grupo com vida.

Com base no tempo de deslocamento e nas imagens captadas, a PCPR concluiu que, por volta das 12h30, ao chegarem à propriedade rural ligada à cobrança, os quatro homens foram surpreendidos por uma emboscada. Segundo os laudos periciais, pelo menos cinco armas de fogo, de calibres diferentes, foram disparadas de três pontos distintos.

Os tiros atingiram a caminhonete pela frente, pelas laterais e pela traseira, enquanto as vítimas ainda estavam dentro do veículo. Os disparos acertaram principalmente cabeça e tórax, o que indica, segundo a polícia, que as mortes foram praticamente instantâneas.

A Polícia Civil descarta completamente qualquer hipótese de sequestro, tortura ou manutenção das vítimas em cativeiro. O estado dos corpos, a ausência de marcas de agressões além dos ferimentos por arma de fogo e o volume dos disparos reforçam a tese de execução imediata. Dentro da cova onde os corpos foram encontrados, também havia fragmentos da própria Fiat Toro, o que indica que os corpos foram retirados do veículo e enterrados logo após o crime.

Após as execuções, os autores teriam utilizado a própria caminhonete das vítimas para transportar os corpos até o local da cova, além de ocultar o veículo. Imagens analisadas pela investigação mostram a Fiat Toro se deslocando rumo à área onde os corpos foram enterrados pouco tempo depois do crime. Denúncias anônimas também relataram uma intensa sequência de disparos na zona rural de Vila Rica no mesmo horário, reforçando a reconstrução feita pelos investigadores.


As investigações sobre quem executou e quem pode ter participado ou auxiliado seguem em andamento e sob rigoroso sigilo.

Esse sigilo foi reforçado após surgirem suspeitas de que informações teriam sido repassadas aos investigados após o crime. Diante disso, dois policiais de Icaraíma tiveram mandados de busca cumpridos recentemente e foram afastados da unidade por precaução, embora, segundo a Polícia Civil, não haja qualquer indício de participação deles nas mortes.

A linha do tempo:

04 de agosto de 2025: À tarde - Alencar e os cobradores chegam a Icaraíma. Grupo vai até Vila Rica para cobrar a dívida dos Buscariollo, mas não há acordo. Alencar demonstra medo; Diego garante que "não haverá problemas".

05 de agosto de 2025: 07h - Diego envia áudios à esposa relatando que um dos devedores estava armado e que voltariam para tentar resolver a cobrança.

11h47 - Novo contato de Diego com a esposa: diz que os Buscariollo "estão se escondendo", mas que "vai dar certo".

12h04 - Câmeras registram as vítimas deixando Icaraíma rumo a Vila Rica na Fiat Toro.

12h30 - Segundo a PCPR, ocorre a emboscada na propriedade rural ligada à dívida.

As vítimas são atacadas com disparos de pelo menos cinco armas, de três direções diferentes.

Os tiros atingem cabeça e tórax; as mortes são instantâneas.

Após as execuções:

Corpos são levados na própria Fiat Toro até o local onde foram enterrados. O veículo também é ocultado.

Após o crime

Denúncias anônimas relatam intensa troca de tiros na região, no mesmo horário da execução, relatos compatíveis com a investigação.

Principais Diligências da Polícia Civil (resumo simplificado)

06 a 22 de agosto: Instauração do inquérito, acionamento do TIGRE e força-tarefa nas buscas.

Mandados de busca na casa dos Buscariollo e apreensão de diversos veículos ligados ao caso. Início da coleta de imagens de câmeras e reconstrução dos trajetos feitos pelas vítimas.

25 a 31 de agosto: Local do crime é identificado. Encontrados estojos de munições de vários calibres. Perícias confirmam uso de fuzil e outras armas.

Setembro

09/09 a 18/09 - Drone, georadar e buscas terrestres na área rural.

18/09 - Corpos encontrados. Apreensão de outros veículos possivelmente usados nas fugas. Perícias indicam sangue e marcas de tiros em carros ligados aos suspeitos.

Outubro

Vários laudos confirmam tipos de munição, presença de sangue e impactos no veículo das vítimas. Laudos de necropsia descartam tortura e cativeiro: mortes foram instantâneas por disparos em regiões vitais.

Novembro

Novos laudos confirmam calibres de projéteis encontrados na Fiat Toro e nos corpos. Perícia comprova que peças do veículo estavam na própria cova, reforçando que o enterro ocorreu logo após as execuções.

09 de dezembro

Mandados de busca contra dois policiais de Icaraíma por possível comunicação com investigados após o crime. Não há indícios de participação nos assassinatos, apenas possível repasse de informações depois. Agentes são afastados para garantir total transparência.

Gabi Lira | Catve.com

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