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Francisco e outros: Por que os papas mudam de nome ao serem eleitos?

A escolha de um novo nome não é obrigatória, mas tornou-se prática tradicional entre os pontífices


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A morte do Papa Francisco, na segunda-feira (21), aos 88 anos, encerra um ciclo histórico de um dos pontificados mais marcantes do século XXI. Argentino, jesuíta e com forte vocação pastoral, Jorge Mario Bergoglio escolheu o nome "Francisco" ao assumir o trono de Pedro, em 2013, em homenagem a São Francisco de Assis, símbolo de humildade, paz e cuidado com os pobres.

Mas afinal, por que os papas mudam de nome ao serem eleitos? Qual a origem dessa tradição e o que ela representa para a Igreja Católica? Para entender a profundidade desse costume milenar, é preciso voltar às raízes da própria instituição.

Uma tradição que começa com Pedro

Segundo a tradição cristã, o primeiro papa da história foi o apóstolo Simão, a quem Jesus Cristo deu o nome de Pedro — "tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja" (Mateus 16:18). O gesto simbólico de mudança de nome, nesse caso, refletia uma missão: Pedro seria a rocha da nova fé.

Durante os primeiros séculos do cristianismo, no entanto, os papas mantinham seus nomes de batismo. A mudança de nome só se tornaria costume a partir do século VI. O primeiro papa a adotar oficialmente um novo nome foi João II, em 533. Seu nome de batismo era Mercúrio — o mesmo do deus romano do comércio e dos ladrões —, o que soava inadequado para um líder da Igreja. Ele então escolheu "João" como forma de homenagem a seu antecessor, João I, e também ao apóstolo João.

Por que os papas mudam de nome?

A escolha de um novo nome não é obrigatória, mas tornou-se prática tradicional entre os pontífices. O gesto tem forte simbolismo: representa um novo começo, uma nova missão espiritual e, muitas vezes, sinaliza a linha pastoral e teológica que o papa pretende seguir.

Ao ser eleito, o novo pontífice é questionado pelo Cardeal Decano: "Como deseja ser chamado?" É nesse momento que ele comunica seu novo nome, que será anunciado ao mundo com o famoso pronunciamento: "Habemus Papam!"

Homenagens e sinalizações

A escolha do nome pode refletir homenagens a apóstolos, santos, papas anteriores ou ideais que o novo papa deseja representar. João, por exemplo, é o nome mais usado entre papas: foram 21 pontífices com essa escolha. Outros nomes marcantes incluem Pio, Bento, Leão e Inocêncio.

No século XX, João Paulo II, cujo nome de batismo era Karol Wojtyla, prestou uma dupla homenagem: ao Papa João XXIII e ao Papa Paulo VI. A escolha indicava um desejo de continuidade nas reformas pastorais iniciadas por ambos. Seu sucessor, Joseph Ratzinger, adotou o nome Bento XVI, evocando Bento XV, papa durante a Primeira Guerra Mundial e símbolo de neutralidade e diplomacia.

Em 2013, Jorge Mario Bergoglio inovou ao escolher um nome inédito: Francisco, em tributo a São Francisco de Assis. A escolha deixou clara sua intenção de liderar uma Igreja mais simples, próxima dos pobres e atenta às questões sociais e ambientais.

O nome como espelho do pontificado

A escolha do nome não é apenas uma formalidade: ela se torna um reflexo do estilo de liderança e do legado que o papa pretende deixar. Veja alguns exemplos históricos:

Pedro (Simão) - Fundador da Igreja, martirizado em Roma;

João Paulo II (Karol Wojtyla) - Conservador, mas carismático, liderou a Igreja durante mais de 26 anos;

Alexandre VI (Rodrigo Bórgia) - Marcado por escândalos e nepotismo durante o Renascimento;

João XXIII (Angelo Roncalli) - Promoveu o Concílio Vaticano II, que modernizou a Igreja;

Bento XV (Giacomo della Chiesa) - Atuou na Primeira Guerra Mundial e buscou a paz entre as nações.

O que esperar agora?

Com a morte de Francisco, inicia-se o período de sede vacante, no qual o trono papal permanece vago. Os cardeais com menos de 80 anos se reunirão em conclave nos próximos dias para eleger o novo pontífice. Quando o fumo branco subir da Capela Sistina, o mundo conhecerá não só um novo líder da Igreja, mas também um novo nome, carregado de simbologia, tradição e expectativa.

E, como manda a tradição, será mais uma página escrita na história de uma das instituições mais antigas e influentes do mundo.

Antonio Mendonça/ Catve.com

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