Formando da UFRGS é indiciado por apologia ao nazismo por usar suástica no rosto em colação

O formando do curso de Engenharia de Minas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Vinicius Krug de Souza, foi indiciado pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul (PCRS) por apologia ao nazismo. Em 18 de fevereiro deste ano, ele compareceu à cerimônia de colação de grau com uma suástica nazista desenhada no rosto.

A Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância (DPCI), sob coordenação da delegada Tatiana Barreira Bastos, concluiu a investigação e encaminhou o inquérito ao Poder Judiciário em 7 de abril. Durante a investigação, foram ouvidos o coordenador de segurança da UFRGS, o vice-reitor da universidade — que presidia a cerimônia no dia dos fatos —, além do comunicante da ocorrência, a mãe, a namorada e uma amiga do suspeito.

Segundo a PCRS, Os relatos apontam que o estudante foi impedido de colar grau enquanto usasse o símbolo nazista no rosto. Após ser advertido, ele substituiu a imagem para poder participar da solenidade.

Em nota, a UFRGS disse que o vice-reitor e o coordenador de Segurança foram até o local em que se encontrava Vinicius (na sala em que os formandos se preparam para a cerimônia) e proibiram ele de participar da colação de grau com a suástica pintada no rosto.

Em depoimento, o estudante negou que a suástica fosse nazista. Disse que se tratava de uma suástica hindu e justificou a escolha com base em interesses pela cultura indiana. No entanto, segundo a Polícia Civil, além do símbolo principal se tratar da "cruz gamada" — símbolo hindu apropriado pelo regime nazista —, outros desenhos pintados no rosto do aluno também fazem referência ao nazismo, sendo recorrentes em grupos extremistas.

A investigação apontou ainda que o jovem utilizou durante a formatura a música ‘The Perfect Girl’, do artista Mareux, que aparece em plataformas de áudio com a marcação "with a nazi voice" e é comumente usada em publicações nas redes sociais com teor de apologia ao nazismo.

Computadores e celulares do suspeito foram apreendidos e passam por perícia no Instituto-Geral de Perícias (IGP). A apologia ao nazismo é crime no Brasil, com pena de até cinco anos de reclusão.

O caso teve ampla repercussão nacional e foi inicialmente denunciado em 19 de fevereiro de 2025, um dia após o ocorrido, na Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância.

DCE repudiou a prática do acadêmico

A ação gerou repúdio imediato por parte do Diretório Central dos Estudantes (DCE). O órgão estudantil classificou o episódio como apologia ao nazismo.

Em nota, o DCE afirmou que a UFRGS é um território antifascista e que tais atitudes não seriam toleradas. A entidade informou que encaminhou um ofício à Reitoria da Universidade, exigindo a anulação da entrega do diploma e da formatura de Vinícius.

O DCE também cobrou uma investigação rigorosa sobre o caso para que situações semelhantes não se repitam. Confira, logo abaixo, a nota na íntegra:

"ABSURDO! Recebemos com muita indignação a informação de que o formando do curso de Engenharia de Minas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Vinícius Krug de Souza, desenhou uma suástica no rosto para participar da formatura dos cursos de Engenharia, na noite de hoje.

Enquanto representação máxima dos estudantes da UFRGS, reafirmamos que apologia ao nazismo É CRIME e essa ação não passará impune. A UFRGS é território antifascista e não aceitaremos que se normalizem ações como essa dentro da nossa Universidade.

Enviaremos ainda hoje ofício à Reitoria da Universidade exigindo a anulação da entrega do diploma e da formatura do aluno Vinícius diante do crime cometido, que é previsto no Código Penal Brasileiro. Além disso, uma rigorosa investigação desse episódio será fundamental para que não se repita. Nazistas não passarão!"

UFRGS registrou boletim de ocorrência na PF

A UFRGS registrou boletim de ocorrência na Polícia Federal e definiu uma comissão - formada por dois professores, dois técnicos administrativos e dois estudantes - para avaliar o caso. A instituição reiterou que o estudante não estava com símbolos nazistas durante a cerimônia e justificou a continuidade do evento como uma forma de respeito aos demais formandos, familiares e convidados.

"Nota sobre episódio que antecedeu a cerimônia de formatura dos cursos de Engenharia Metalúrgica, Engenharia de Minas e Engenharia de Materiais ocorrida nesta terça-feira, 18 de fevereiro, no Salão de Atos da UFRGS.

A Universidade informa que, antes do início da cerimônia de formatura, ao tomar conhecimento que havia um formando com uma suástica pintada no rosto, tomou as seguintes providências:

• O vice-reitor e o coordenador de Segurança foram até o local em que se encontrava o estudante (na sala em que os formandos se preparam para a cerimônia) e proibiram o estudante de participar da colação de grau com a suástica pintada no rosto;

• O formando alegou que se tratava de um símbolo hindu e negou que estava ostentando um símbolo nazista;

• Ele foi, então, advertido que se não apagasse a suástica, além de não poder colar grau, seria encaminhado para a Polícia Federal para registro de ocorrência e para que a PF avaliasse se era ou não um símbolo nazista o que ele ostentava;

• Diante dessa advertência, ele concordou em apagar a pintura da suástica e manteve no rosto outros símbolos, sem relação com o nazismo, com os quais permaneceu na cerimônia.

• A UFRGS decidiu que irá registrar boletim de ocorrência na Polícia Federal nesta quarta-feira, dia 19.

• Também nesta quarta-feira, serão analisadas que medidas administrativas devem ser tomadas.

Salienta-se que, diferentemente das diversas manifestações nas redes sociais, o formando em questão NÃO ostentava símbolos nazistas durante a cerimônia de formatura. Também é importante destacar que a decisão da Universidade de dar prosseguimento à cerimônia dentro da possível normalidade diante deste inadmissível episódio deve-se à consideração aos demais formandos, seus familiares e convidados que estavam reunidos em um momento de celebração. Posto isso, a UFRGS reafirma que não tolera manifestações de ódio, de intolerância ou de ataque aos direitos humanos nos seus espaços."

Por Samuel Rocha | Catve.com