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Banco Central deve manter juros em alta máxima há quase duas décadas

A definição da taxa segue o regime de metas de inflação


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Foto: EBC

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nesta quarta-feira (5) e todas as indicações apontam que a taxa básica de juros (Selic) será mantida no atual patamar de 15% ao ano - o nível mais elevado dos últimos quase 20 anos.

Caso se confirme a decisão, será a terceira vez consecutiva que o Copom deixa os juros sem alteração. A previsão majoritária entre os economistas de instituições financeiras é de que o ciclo de redução da Selic só tenha início em janeiro de 2026. O resultado final da reunião será divulgado pelo BC a partir das 18h.

Função dos juros e sistema de metas

A taxa Selic é o principal mecanismo utilizado pelo Banco Central para controlar a inflação. Seu impacto é particularmente sentido pela população de menor renda, que é mais vulnerável aos aumentos de preços.

A definição da taxa segue o regime de metas de inflação. Quando as projeções indicam que a inflação futura estará dentro da meta estabelecida, o Copom tende a reduzir os juros. Se as expectativas apontam para um descontrole de preços, o Comitê opta por manter ou elevar a Selic.

A partir de 2025, o Brasil adotou o sistema de meta contínua, com o centro definido em 3%. O objetivo é considerado cumprido se a inflação ficar entre 1,5% e 4,5%. Devido a seis meses consecutivos de inflação acima do limite em junho, o BC foi obrigado a divulgar uma carta aberta explicando o descumprimento.

A decisão sobre os juros é sempre tomada com base nas projeções de inflação para daqui a alguns anos, e não nos índices de preços já registrados. Isso ocorre porque os efeitos de uma mudança na Selic levam entre seis e 18 meses para serem totalmente absorvidos pela economia. Atualmente, o Banco Central já trabalha com projeções que miram o segundo trimestre de 2027.

Para os anos de 2025 a 2028, as expectativas do mercado para o IPCA são de 4,55%, 4,20%, 3,8% e 3,5%, respectivamente - todos acima da meta central de 3% perseguida pela autoridade monetária.

Crescimento econômico mais lento como estratégia

O Banco Central tem afirmado publicamente que uma desaceleração da atividade econômica é parte da estratégia para domar a inflação. A lógica é que, com um ritmo de crescimento mais moderado, diminuem as pressões inflacionárias, especialmente no setor de serviços.

Na ata de sua última reunião, em setembro, o Copom informou que o "hiato do produto" - um indicador que mede se a economia está operando acima ou abaixo de sua capacidade - permanece positivo. Isso significa que a atividade econômica ainda está aquecida, sem gerar pressões inflacionárias adicionais no momento.

O Comitê afirmou, na ocasião, que observa "uma moderação gradual da atividade em curso, certa diminuição da inflação corrente e alguma redução nas expectativas de inflação". No entanto, reforçou que "seguirá vigilante e não hesitará em retomar o ciclo de alta se julgar apropriado".

Análise do cenário econômico

Na avaliação de analistas do mercado, o cenário da economia apresentou evolução positiva recente, com queda da inflação além do esperado e revisão para baixo das expectativas de inflação, inclusive para prazos mais longos. Essa melhora é atribuída não apenas a um câmbio mais favorável, mas também a uma desaceleração da inflação de serviços.

Há uma perspectiva de que o Copom poderia abrir espaço para discutir cortes de juros ainda este ano, embora deva manter um discurso cauteloso, empurrando a expectativa de início do ciclo de cortes para o primeiro trimestre de 2026.

Por outro lado, observa-se que um impulso fiscal mais robusto é esperado para os próximos meses, com a ampliação de programas sociais e medidas de incentivo, que podem representar um impacto próximo de 1% do PIB no próximo ano. Diante desse cenário misto - combinando desaceleração econômica com aumento de gastos públicos -, o Banco Central terá de ponderar entre manter uma postura cautelosa ou sinalizar algum alívio nos juros no futuro, sem comprometer a credibilidade conquistada.

Antonio Mendonça/ Catve.com

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