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Os tucanos que nasceram de ovos encontrados na roupas íntimas de passageira em Foz do Iguaçu vivem bem no Parque das Aves.
Os oito ovos foram apreendidos pela Polícia Federal no aeroporto em setembro de 2023. Poucos dias depois que a incubação artificial foi iniciada na área de neonatologia, os ovos já começaram a eclodir, nascendo seis filhotes (um ovo chegou quebrado e outro teve morte embrionária, isto é, o embrião que se desenvolvia faleceu ainda dentro do ovo). Com os nascimentos, a equipe técnica do Parque das Aves já pôde constatar de imediato que se tratavam de filhotes da família dos Ranfastídeos, grupo ao qual pertencem os tucanos e os araçaris. Todos os cuidados neonatais foram direcionados para ofertar a melhor temperatura e umidade para o desenvolvimento sadio destes filhotes, que inicialmente eram alimentados 11 vezes ao dia.
Com o decorrer das semanas foi possível identificar que as aves eram da espécie tucano-toco (Ramphastos toco). Destes filhotes nascidos, cinco conseguiram atingir os 15 dias de vida. Os cuidados intensos por parte de uma equipe técnica, que inclui biólogos, veterinários, zootecnistas, tratadores, preparadores de alimentos, entre outros colaboradores que somam mais de 80 pessoas diretamente envolvida no cuidado animal, possibilitou uma nova chance de vida a estes indivíduos. "Animais traficados passam por situações muito traumáticas desde o momento em que são retirados do seu ambiente, e isso, imediatamente tende a prejudicar o desenvolvimento físico, social e psicológico destes animais, dificultando a sobrevivência deles", complementa Paloma Bosso, diretora técnica do Parque das Aves..
Com 30 dias de vida os filhotes recebiam 4 alimentações por dia, composta por papa e ração próprias para a espécie. Com 40 dias de vida eles começaram a se alimentar sozinhos, mas ainda precisavam receber um reforço alimentar diretamente no bico, feito pelas biólogas da equipe de neonatologia. Neste período eles também saíram das Unidades de Tratamento Animal, as chamadas UTAs, que lhes forneciam a temperatura e umidade controladas, pois já estavam aptos para uma vida mais independente. No entanto, foi apenas aos 50 dias de idade que eles se tornaram completamente independentes e passaram a se alimentar sozinhos.
Com 60 dias de vida, o grupo foi transferido para um viveiro no Parque das Aves. Com o passar do tempo, outros dois animais vieram a óbito. Hoje, os remanescentes que vivem no Parque das Aves seguem em um local fora da área de visitação, recebendo toda a atenção e cuidado da equipe. O recinto onde eles vivem é composto por um ambiente complexo, que inclui vegetação e uma diversidade de elementos que eles normalmente encontram em seu habitat de origem, e com isso manifestam comportamentos típicos da espécie. A alimentação balanceada, própria para a espécie, é ofertada duas vezes ao dia, considerando os requerimentos nutricionais da espécie e além disso são oferecidos itens de enriquecimento ambiental que proporcionam estímulos cognitivos e mentais, de acordo com a programação da Área de Bem-estar Animal.
"Situações como essa ressaltam as consequências de uma prática tão impiedosa com a fauna. Estima-se que a cada 10 animais retirados de seu ambiente natural para abastecer o mercado ilegal, 9 infelizmente vão a óbito para que um único indivíduo seja então comercializado irregularmente. Além disso, o tráfico indiretamente afeta outros seres vivos, como os seres humanos também, sem que muitas vezes sequer percebemos isso. Por todos esses motivos, é tão fundamental as pessoas entenderem que não devem fomentar, ainda que por desconhecimento, esse tipo de crime", fala Paloma.
O acolhimento destes animais representa parte do trabalho realizado historicamente nos 30 anos de existência do Parque das Aves. Mais de 50% da população histórica da instituição é oriunda de animais vitimados, ou seja, que sofrem consequências de ações desfavoráveis em seu habitat, sejam elas: tráfico, atropelamento, queimadas, colisões em vidraças e afins. Em 2023, o Parque das Aves se consolidou como um Centro de Apoio à Fauna Silvestre (CAFS) através de uma parceria com o Instituto Água e Terra (IAT), órgão ambiental no estado do Paraná. Os CAFS fazem a recepção de animais resgatados pelo IAT, realizando sua posterior triagem, atendimento médico veterinário quando necessário e posterior translocação para o ambiente de origem natural ou demais encaminhamentos conforme determinado pelo órgão ambiental.
"Nos últimos 10 anos recebemos mais de 1.700 animais resgatados por órgãos ambientais. São várias histórias, como a dos ovos de tucanos sendo transportados nas roupas íntimas de uma passageira no Aeroporto Internacional de Foz do Iguaçu, ou aves que bateram em vidraças e se machucaram. Parte desses animais pode retornar para o ambiente onde vivia, pois conseguiu se recuperar. Mas os inaptos a retornar ao ambiente de ocorrência natural passam a viver conosco. Nessas ocasiões, buscamos proporcionar o melhor grau de bem-estar possível a esses animais, que também desempenham um papel educativo de extrema relevância pois são embaixadores no combate ao tráfico de animais, dentre outras ações antrópicas que exercem muitas ameaças de caráter irreversível a nossa fauna", reforça Paloma.
Assessoria
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