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Conheça promotora de Justiça que protege mulheres de violência doméstica em Cascavel

Com mais de 8 mil processos, Andrea Frias cobra uma nova vara especializada no município


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Foto: Catve.com

Segunda filha de um casal com cinco filhos, a promotora de Justiça do Paraná e professora universitária, Andrea Simoni Frias, nasceu na capital paulista e, ainda pequena, foi morar em Guarulhos (SP). Nascida em uma família de classe média baixa, estudou na rede pública nos anos iniciais do fundamental e, a partir da 5ª série, ingressou em uma escola de freiras, retornando à rede estadual ao começar o ensino médio.

Adolescente, aos 16 anos, o primeiro trabalho de Andrea Frias foi como auxiliar de escritório de uma transportadora de cargas. Por um ano e cinco meses, ela trabalhou como bancária do Bamerindus. Depois, ela foi aprovada em um concurso pela primeira vez para atuar no Banco do Estado de São Paulo (Banespa), na unidade do aeroporto de Guarulhos.

Trabalhando durante o dia e cursando a faculdade de direito à noite, no 4° ano do curso, ela conheceu a atuação do Ministério Público ao participar de um estágio voluntário no órgão. Após concluir a graduação, o Banespa foi privatizado. Os gestores firmaram um acordo de demissão consentida com os colaboradores, pagando salários a mais para aqueles que tivessem interesse.

"Foi uma oportunidade que tive de ficar dois anos sem trabalhar e estudando, exclusivamente com esse dinheiro que viria, porque tinha o cursinho. Na minha casa, não me faltava nada, tinha onde dormir e onde comer, mas eu querendo fazer o concurso público, eu tinha despesas: a própria inscrição, o deslocamento", comenta Andrea Frias.

Conforme planejado, após dois anos intensos de estudos, com horas a fio de leitura e exercícios, Andrea Frias foi aprovada no concurso do Ministério Público do Estado do Paraná.

"Eu não pensava em advogar, não porque eu não admirasse a advocacia, mas eu estava no banco e tinha um salário no fim do mês. Essa incerteza que a advocacia dá de, às vezes, ficar sem receber nada. Depois você recebe, então isso me assustava um pouco, como eu iria administrar isso", afirma ao explicar a escolha em atuar no Ministério Público. Para ela, além disso, a afinidade com a instituição durante o estágio e a estabilidade financeira foram cruciais para a tomada de decisão.

Pedras nos Sapatos até Aprovação no Concurso Público

Antes de ser aprovada no concurso, no ano anterior, em 1996, Andrea Frias chegou até a última fase do processo seletivo, eliminando 90% dos candidatos. Mas ela foi reprovada na fase oral, tanto no Paraná quanto em São Paulo, devido ao nervosismo.

"Eu não passei e é como você tomar uma enxurrada. O que eu vou fazer da minha vida agora porque eu não entrei? Eu vou me reerguer e começar do zero. Começar do zero de novo. Um concurso público tanto de juiz como promotor exige praticamente um ano entre a inscrição e os exames", comenta.

Atuação no Ministério Público do Paraná


Na segunda tentativa, porém, aos 27 anos, Andrea Frias conquistou a aprovação na prova oral realizada em Curitiba (PR). "Realmente, a vida da gente muda, a vida muda em vários aspectos. Foi um antes e depois. Um marco realmente", avalia. Inicialmente, ele trabalhou como substituta na seção judiciária de Pato Branco, no sudoeste do Paraná.

Antes de chegar a Cascavel para atuar como promotora em 2003, Andrea Frias trabalhou em Clevelândia, Laranjeiras do Sul e Marechal Cândido Rondon. Em 2009, Andrea Frias deixou o juizado de pequenas causas para gerenciar, desde a instalação, a vara especializada de violência doméstica e familiar contra mulher e crimes contra crianças, adolescentes e idosos.

Violência Contra Mulher

"É uma luta que depende de uma mudança social. Só com o tempo as pessoas vão entender. Do mesmo jeito que um homem tem direito em não querer mais um relacionamento, a mulher também tem direitos. São coisas da vida. As divergências sempre vão existir, mas nós temos que entender que somos seres humanos e temos consciência", pontua a promotora de Justiça.

Questionada sobre os mecanismos de combate à violência doméstica, Andrea Frias afirma que as medidas protetivas afastam os agressores das vítimas, garantindo que as agressões sejam evitadas. O direito penal evoluiu após a implementação da Lei Maria da Penha, possibilitando a condenação dos criminosos com base em evidências e no depoimento das vítimas.

"Eu posso dizer que fui vítima de importunações sexuais dentro de ônibus e metrôs e tive que me calar, por quê? Naquela época, a pessoa, abusando da situação, um ônibus cheio, aproveitava para se encostar e tal. O que eu iria fazer naquela época? Hoje, as mulheres param o ônibus. Exigem que a polícia seja chamada porque elas sabem que tem voz", complementa Andrea Frias.

Sobrecarga de Processos

O Juizado de Violência Doméstica Contra a Mulher, Crimes Contra Criança, Adolescente e Idoso foi criado para atender cinco delegacias: de Cascavel, Santa Tereza e Lindoeste, mas, há algum tempo, não consegue suportar o número excessivo de processos. Alguns demoram até cinco anos para serem julgados.


"A gente espera que isso seja resolvido quanto antes. O Tribunal de Justiça, que é o órgão competente para criar uma nova vara, está ciente dessa situação. Estamos aguardando, está demorando bastante para isso ser resolvido. Isso já deveria ser resolvido antes pela gravidade do fato", salienta Andrea Frias.

"É inconcebível que um crime contra uma criança, um crime contra um idoso e uma violência doméstica contra a mulher dure três anos. A gente está no limite, são feitas muitas audiências, se faz o que é possível, mas com esse volume? Eu não posso negligenciar, tem que ter o meu olhar, a audiência sou eu quem faz", finaliza.


Redação Catve.com

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