Política

Brasil se torna o primeiro país em que metade da população recebe auxílio e depende do governo


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Imagem: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

Quando surge a manchete de que "50% da população brasileira depende de auxílios governamentais", a reação oficial costuma ser de celebração. Afinal, segundo o discurso, isso provaria que "o Estado está presente", que "ninguém está ficando para trás", que "os programas sociais estão alcançando quem precisa". Mas há algo profundamente equivocado e, sobretudo preocupante, nessa leitura.

O governo mede o sucesso de seus programas pelo número de brasileiros que entram neles, e não pelo número de pessoas que saem da dependência estatal. Em outras palavras, a política pública virou uma estatística de adesão, não uma estratégia de emancipação.

Isso não é um detalhe técnico. É uma distorção de prioridades. Tratar dependência como indicador de eficácia é um erro. Em qualquer política social madura, o objetivo central deveria ser permitir que as pessoas não precisem mais do auxílio, e que conquistem renda, autonomia, estabilidade. Mas no Brasil ocorre o inverso: quanto mais brasileiros dependem do Estado, mais o governo interpreta que "funcionou". É como se um médico comemorasse o aumento de pacientes na UTI.

Enquanto isso, a engrenagem política se alimenta desse ciclo. A dependência vira moeda eleitoral, e a retórica se acomoda na ilusão de que a ampliação do assistencialismo é sinônimo de avanço social. Não é. Auxílio não é política de desenvolvimento, é política de emergência.

Programas de transferência de renda têm papel importante, e muitas vezes indispensável, para aliviar situações de pobreza extrema. Mas eles não substituem o que realmente tira um país do atraso: crescimento econômico sustentável, educação de qualidade, mercado de trabalho produtivo, ambiente de negócios saudável e planejamento de longo prazo.

No Brasil, no entanto, a agenda se inverteu. O Estado é rápido para dar o peixe, mas preguiçoso e desorganizado para ensinar a pescar e, principalmente, para fazer o rio existir.

A dependência em massa dos auxílios revela um país preso numa engrenagem de curto prazo. Uma sociedade que se acostumou a discutir pobreza apenas sob a ótica do repasse financeiro, e não da criação de riqueza. E um governo que prefere administrar carências do que eliminar suas causas.

Um país que mede sucesso pela fila de entrada, e não pela fila de saída, está condenado a permanecer onde sempre esteve: estacionado na promessa do "país do futuro".

O primeiro passo para enfim deixarmos de ser, enfim, o "país do futuro", é óbvio e incômodo: encarar que políticas sociais não são políticas de desenvolvimento. Elas mitigam o problema, mas não o resolvem.

O segundo é reconstruir as bases que permitem que um brasileiro deixe o auxílio: educação básica de verdade, não o faz-de-conta das aprovações automáticas; crescimento econômico consistente, não temporário; produtividade e inovação, não protecionismo e burocracia; um mercado de trabalho flexível, que gere oportunidades reais; e gestão pública que pense em décadas, não em ciclos eleitorais.

Enquanto continuarmos celebrando estatísticas de dependência como se fossem conquistas nacionais, estaremos apenas empurrando para a frente o país que nunca chega, e que, justamente por isso, continua sendo chamado de "o país do futuro".

Texto de Ayslan Guetner

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