Política

Tchau, Oi - por Ayslan Guetner


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Foto: Pixabay

Após anos de tentativas de reestruturação, decisões judiciais e sucessivas trocas de comando, a Oi, que já foi símbolo de ambição nacional no setor de telecomunicações, finalmente teve sua falência decretada. O caso não é apenas o colapso de uma empresa, mas o retrato de como erros de gestão, excesso de endividamento e políticas públicas equivocadas podem corroer um gigante com potencial estratégico para o país.

Da ambição ao abismo

A trajetória da Oi é marcada por um problema que nasceu junto com sua fundação: um projeto político-empresarial de concentração sem planejamento econômico sustentável. Criada em meio à onda de privatizações dos anos 2000, a Oi cresceu absorvendo outras operadoras e se endividando em proporções bilionárias para sustentar aquisições como a da Brasil Telecom, em 2008. Operação esta que, embora tenha ampliado sua base de clientes, mergulhou a companhia em uma dívida difícil de administrar.

A estratégia de expansão foi acompanhada de problemas de governança corporativa, conflitos entre acionistas e uma estrutura de capital altamente alavancada. Quando a concorrência se intensificou e o mercado de telecomunicações passou por forte transformação tecnológica, a Oi ficou para trás: falhou em investir em inovação, perdeu relevância na telefonia móvel e ficou dependente de receitas declinantes da telefonia fixa.

Em 2016, veio o maior pedido de recuperação judicial da história do Brasil: mais de R$ 65 bilhões em dívidas. Parecia uma chance de renascimento. Mas, mesmo após renegociações, desinvestimentos e novos planos, a empresa não conseguiu recuperar sua capacidade de gerar caixa nem retomar a confiança dos investidores. Em 2024, já sem fôlego financeiro e com suas principais divisões vendidas, o fim era inevitável.

Decepção e alerta

A falência da Oi deixa uma marca profunda no mercado de capitais brasileiro. Milhares de investidores — especialmente pessoas físicas que apostaram na recuperação da companhia — veem agora suas ações transformarem-se em "pó". Na prática, quem ainda detém ações da Oi hoje enfrenta uma situação sem saída: os papéis perdem todo o valor de mercado e não há expectativa de ressarcimento. Em casos de falência, os acionistas são os últimos na fila de credores, atrás de empregados, fornecedores e instituições financeiras.

Do ponto de vista macroeconômico, o impacto direto é limitado, já que a Oi vinha encolhendo há anos e seu papel no setor estava restrito. Contudo, o efeito simbólico é forte: mais uma empresa brasileira de capital aberto sucumbe, reforçando a desconfiança de investidores sobre a capacidade de governança e transparência do mercado nacional.

A duras penas, a Oi ensina que crescimento sem estratégia, governança sem disciplina e dívida sem lastro em geração de valor são combinações fatais. A insistência em "ganhar escala" a qualquer custo, sem foco em rentabilidade e eficiência operacional, é uma armadilha comum em empresas que confundem tamanho com força.

O fim como começo

Para o investidor brasileiro, fica o aprendizado de que não há "barganha" segura em papéis de empresas em recuperação judicial. O preço baixo não é sinônimo de oportunidade, mas muitas vezes o reflexo de uma realidade irreversível. Transparência, governança e sustentabilidade financeira precisam ser critérios prioritários na hora de investir, mesmo que o "potencial de valorização" pareça tentador.

Para o país, a falência da Oi é um lembrete de que estruturas empresariais frágeis, sustentadas por endividamento e protecionismo, não resistem a longo prazo. O mercado cobra eficiência e clareza e, quando não as encontra, pune sem piedade.

A Oi deixa de existir como símbolo corporativo, mas sua história permanece como uma lição sobre o preço da má gestão e o custo da falta de transparência. É o fim de uma era, e talvez, com sorte, o início de uma maturidade maior no capitalismo brasileiro.

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