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A derrota de Javier Milei nas eleições de Buenos Aires nesta semana representa um duro golpe político para o presidente argentino e para o projeto de transformação econômica que ele vinha tentando conduzir. Buenos Aires, além de ser o maior colégio eleitoral do país, é também o centro financeiro e político da Argentina. Perder nesse território significa não apenas um revés simbólico, mas também a perda de força prática para negociar com o Congresso e com governadores em torno de reformas estruturais.
Entre as causas da derrota, destacam-se o desgaste natural das medidas de austeridade que, apesar de necessárias para conter a hiperinflação, vêm impondo um custo social altíssimo. O corte de subsídios, a retração do consumo e o desemprego crescente geraram descontentamento em setores médios e populares que, inicialmente, acreditaram no discurso de mudança. Além disso, a postura radical e muitas vezes confrontativa de Milei contribuiu para isolar potenciais aliados políticos, deixando-o vulnerável a uma frente opositora unida na capital.
A crise foi agravada pelo escândalo de corrupção envolvendo sua irmã, Karina Milei, uma das figuras centrais do governo e responsável pela articulação política do presidente. O caso gerou forte desgaste à imagem de Milei, que sempre se apresentou como um outsider antipolítica e um combatente da "casta corrupta". O episódio acabou reforçando a narrativa dos adversários de que o discurso do presidente não se sustentava na prática, minando a confiança de parte do eleitorado que havia depositado nele esperanças de uma ruptura ética e administrativa.
No mercado financeiro, o impacto foi imediato: a derrota sinalizou incerteza sobre a continuidade das reformas liberais e provocou um aumento no risco-país, queda dos títulos públicos e pressão sobre o câmbio. O entusiasmo inicial dos investidores com a guinada liberal argentina agora se vê manchado tanto pelas dúvidas sobre a real capacidade do governo de entregar estabilidade institucional quanto pelo ruído político provocado pelo escândalo de corrupção.
Mais preocupante ainda é o efeito legislativo dessa derrota. Sem a força política necessária, Milei terá ainda mais dificuldades para aprovar reformas cruciais nas áreas tributária, trabalhista e previdenciária. Sem esses ajustes, a Argentina corre o risco de manter um sistema engessado, caro e pouco competitivo, afastando o capital estrangeiro que o presidente tanto buscava atrair.
A eleição em Buenos Aires mostra que Milei enfrenta o maior teste de sua carreira política: demonstrar que pode, além de propor ideias disruptivas, construir consensos e ampliar sua base de apoio. Mas, agora, terá também de lidar com o desafio de restaurar a credibilidade de seu governo frente a um eleitorado desconfiado e a investidores cada vez mais cautelosos. Caso contrário, sua agenda liberal corre o risco de estagnar, e o país de perder uma rara oportunidade de se reconectar com o investimento global.
texto de Ayslan Guetner
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