Em um tempo não muito distante, a China era tão preocupada com a superpopulação a ponto de o governo obrigar as famílias a terem apenas um filho. Hoje, porém, o discurso chinês é de que ter filhos é um ato de patriotismo. A mudança de pensamento está relacionada ao encolhimento da população chinesa, que está ocorrendo mais rápido do que o previsto. Pelo terceiro ano consecutivo, o país registrou mais mortes do que nascimentos.
Apesar de a população da China ser 6,5x maior que a população do Brasil, ocupando a segunda posição no ranking de países mais populosos do mundo, a queda na natalidade impacta não só a vida dos chineses, mas toda a economia. E, por ser a segunda maior potência econômica do mundo, as consequências desse evento pode ultrapassar as fronteiras.
Esse problema, entretanto, não é exclusivo da China. Em outros países da Ásia, na Europa e até mesmo no Brasil, as famílias estão tendo menos filhos. Mas o cenário demográfico acendeu um alerta na cúpula do Partido Comunista Chinês, que está movimentando-se para tentar reverter o quadro. Xi Jinping, presidente da China, tem ordenado que seus subordinados promovam a "cultura do casamento e de ter filhos" e apoiem as políticas de natalidade.
Alguns ambientalistas, porém, estão comemorando o fato de a população estar diminuindo, dado que uma das consequências seria o alívio da pressão do aquecimento global (a China é responsável por 25% das emissões globais de dióxido de carbono). A diminuição da população tende a resultar em uma melhor qualidade de vida individual das pessoas. Apesar disso, a queda da natalidade origina um problema difícil de resolver: como lidar com os custos de uma população cada vez mais velha e com menos jovens em idade produtiva para gerar riquezas?
A estimativa é de que até 2035 a China possua 400 milhões de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. Nesse ritmo, até 2050, as políticas sociais e de saúde para sustentar os idosos podem custar 25% do PIB chinês.
Alguns efeitos já estão sendo sentidos: cerca de 400 hospitais maternidade fecharam e quase 2 milhões de professores estão correndo o risco de perderem seus empregos por falta de crianças. Essa situação também forçou o governo a aumentar a idade mínima para aposentadoria pela primeira vez em mais de 50 anos.
A situação tem feito o governo chinês a conceder desconto em impostos para incentivar os casais a terem filhos, e até custear o tratamento de fertilização in vitro. Essa é realmente uma mudança impressionante para um país que durante 30 anos impôs um rígido controle populacional: até 2016, os casais podiam ter apenas um filho.
O controle brutal, que objetivava conter o aumento desenfreado da população, e contemplou milhões de esterilizações e abortos forçados, demonstrou-se ser, além de cruel, um desastre. Hoje a China não tem jovens para sustentar a economia. Como resposta a essa situação, o governo chinês autorizou, em 2021, os casais terem até três filhos.
Porém, as mulheres chinesas já não querem ter mais tantos filhos devido ao encarecimento do custo de vida. Para piorar, a política do filho único não deixou apenas cicatrizes emocionais da população, ela também causou um desequilíbrio numérico. Como muitos casais priorizavam ter um filho do sexo masculino, milhares de fetos do sexo feminino foram abortados. O resultado? A população masculina na China supera a feminina em dezenas de milhões de indivíduos, e os homens encontram dificuldades para encontrarem esposas.
Esse cenário possui potencial para impactar outros países. A redução populacional tende a encarecer o custo da mão de obra chinesa e, como a China representa a fábrica do mundo, isso encareceria os produtos made in China, exportando inflação para o mundo todo.
A Índia tem aproveitado esse cenário e absorvendo boa parte dos parques industriais instalados na China, atraindo capital estrangeiro fornecendo incentivos fiscais e oferecendo mão de obra barata. Em 2023 o país ultrapassou a China e assumiu o posto de país mais populoso do mundo, e quer usar essa força populacional para ganhar mais influência na geopolítica global.
A China vem esforçando-se para diversificar seu modelo de crescimento econômico para driblar esse cenário. Ao invés de priorizar o fornecimento de mão de obra barata, os chineses vêm investindo pesado no aumento de produtividade dos trabalhadores, com foco nos produtos de alta tecnologia, robótica e inteligência artificial. Só o tempo, porém, será capaz de provar se a estratégia chinesa para ganhar espaço na disputa econômica global foi assertiva.
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