Política

Alemanha: a economia doente da Europa - por Ayslan Guetner

A terceira maior economia do mundo enfrenta uma combinação de crises


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Há alguns dias escrevi sobre a preocupação da Comissão Europeia com os rumos do bloco econômico mais relevante do mundo, e sobre como os alemães são importantes nesse contexto.

De fato, a Alemanha sempre assumiu o papel de protagonista no continente, e liderou a Europa em crises passadas. O motor econômico da União Europeia, no entanto, enfrenta dificuldades que têm colaborado para que os desafios dos europeus como um todo aumentem.

Além da crise econômica, a Alemanha enfrenta turbulências políticas que estão colocando em xeque a estratégia de crescimento que o país vem praticando há 50 anos. A recuperação da economia alemã após o fim da Segunda Guerra Mundial foi impulsionada pelo nascimento de uma indústria gigantesca, que se consolidou como uma das mais competitivas do mundo em um período que ficou conhecido como o milagre econômico alemão. Mas esse cenário não é mais o mesmo.

A economia alemã encolheu 0,3% em 2023. Desconsiderando o período de pandemia de coronavírus, esse foi o pior resultado para o PIB desde a crise financeira de 2008. A previsão para 2024 é de uma nova queda no indicador de crescimento. Essa é a consequência da queda expressiva no volume de produção (redução de quase 17% de 2017). Em outras palavras, isso significa dizer que a potente indústria alemã está perdendo competitividade no cenário internacional.

É possível ter um dimensionamento da situação que envolve a Alemanha pelo anúncio feio pela Volkswagem no ano passado. O ícone da indústria alemã anunciou que fecharia algumas fábricas pela primeira vez em quase 90 anos de história. O caso chamou a atenção para o declínio de uma das indústrias mais importantes da economia do país: a automobilística.

A ausência de reformas ou ajustes no atual modelo econômico do país está contribuindo para que os alemães percam o protagonismo no setor automotivo, setor em que a Alemanha sempre foi reconhecida pela liderança. Essas reformas, entretanto, dependem essencialmente de investimentos, que têm ficado em segundo plano. Após a crise 2008, o governo alemão tem se mantido focado na implementação de medidas de austeridade fiscal (controle rígido de gastos públicos).

Para alguns especialistas, o modelo econômico alemão, que depende de um grande volume de exportação de produtos manufaturados, é um dos principais problemas. A Alemanha tem sido atropelada pela indústria chinesa, que ganhou espaço fornecendo produtos de igual ou superior tecnologia e qualidade a preços significativamente mais baixos.

O contexto geopolítico também tem complicado as coisas para a Alemanha. A saída do Reino Unido da União Europeia e a postura protecionista dos Estados Unidos alteraram o panorama econômico mundial, e impactaram diretamente as exportações do país. Soma-se a isso um grave problema energético, que agravou-se após a eclosão do conflito entre Rússia e Ucrânia. A disparada dos preços de energia encareceu significativamente os custos de produção da indústria.

Outro problema está, de acordo com outros especialistas, relacionado ao atraso digital. Os analistas pontuam que os alemães não têm acompanhado o ritmo de transformação digital dos seus concorrentes. A Alemanha, inclusive, ocupa a penúltima posição dentre os países da União Europeia no quesito cobertura de internet. Em um mundo cada vez mais digital, esse pode sim ser um problema capaz de contribuir para da desaceleração da indústria do país.

O governo também enfrenta problemas demográficos, que contemplam o envelhecimento da população e a insuficiência de trabalhadores qualificados. Além disso, problemas internos gerados após uma crise política a respeito do orçamento alemão para 2025 levou a coalizão do governo ao colapso. Olaf Scholz governa agora um governo de minoria e praticamente incapaz de aprovar novas medidas ou leis. O resultado? A Alemanha terá eleições antecipadas neste mês de fevereiro, seis meses antes do previsto.

O grande temor é de que o cenário desafiador na Alemanha leve problemas aos demais países do continente. Isso porque, nas últimas décadas, os alemães assumiram o protagonismo do crescimento europeu e representado um pilar essencial no orçamento da União Europeia.

Apesar de tudo isso, a economia alemã ainda é uma das mais pujantes do mundo. A discussão no momento está em torno do que pode ser considerado um problema cíclico ou estrutural, e as consequências para o futuro. Ao longo da história, o país já provou sua capacidade de se reinventar e se recuperar. O cenário, entretanto, exigirá dos alemães resiliência, assertividade, criatividade e ajuste cultural.


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