Os brasileiros que hoje reclamam muito da "invasão" de imigrantes de países enfrentando graves crises econômicas ou conflitos armados, deveriam refletir um pouco mais sobre os benefícios obtidos com a mão-de-obra e os conhecimentos de estrangeiros.
Graças à tradição agropecuária e de transformação caseira de alimentos de imigrantes italianos e alemães, por exemplo, que começaram a chegar ainda no século 19, o Brasil consolidou um dos mais importantes agronegócios do planeta e se tornou um dos maiores exportadores de proteínas de vegetais e animais.
Foram descendentes de imigrantes italianos e alemães, como se sabe, que introduziram em regiões serranas do Sul e Sudeste do País, as culturas da uva, do milho e de hortifrutigranjeiros, juntamente com criações domésticas de suínos, aves e vacas leiteiras.
Dessa forma, desenvolveram a produção artesanal de bebidas, conservas, doces, carnes e leite, além de derivados, que garantiram sua sobrevivência inicial e o crescimento posterior, além de conquistarem consumidores nacionais e internacionais.
Além disso, conforme recente estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a renda per capita do País seria até 17% menor sem os imigrantes, pois o rendimento de descendentes de não ibéricos é comprovadamente maior.
Os benefícios da abertura das portas do País à imigração no passado foram levantados pelos pesquisadores Daniel Lopes e Leonardo Monasterio, este também professor da Universidade Católica de Brasília, com base na renda de brasileiros, especialmente de descendentes de imigrantes de sobrenomes não ibéricos.
O trabalho começou com a elaboração de "dicionário de sobrenomes", a partir de 1,7 milhão de registros de entrada de imigrantes. Com isso, programas de inteligência artificial determinaram a ascendência de 165 milhões de brasileiros de diferentes categorias sociais.
A análise abrangeu os rendimentos de 67 milhões de trabalhadores com carteira assinada (Rais 2016), 81 milhões de beneficiários de programas federais (CadÚnico 2015) e 18 milhões de sócios de empresas e empreendedores registrados na Receita Federal do Brasil.
Identificadas as origens dos trabalhadores, foi calculado estatisticamente o impacto da ascendência do imigrante na renda per capita dos municípios brasileiros e nos salários dos trabalhadores formais.
Para determinar essa influência, a pesquisa substituiu dados de descendentes de italianos, alemães, japoneses ou de imigrantes do Leste europeu, pelos de brasileiros brancos com sobrenome ibérico.
Os ganhos associados à participação de japoneses foram relevantes, pois a cada 1% de seus descendentes, a renda per capita municipal subiu 23 reais.
Isso porque trabalhadores com sobrenomes asiáticos recebiam salários 17,8% mais altos que os de sobrenome ibérico, enquanto italianos ganhavam 6,5% acima, alemães 7,7% e descendentes de países do Leste europeu, 7,2%.
Embora o estudo não determine por que haveria vantagens para os imigrantes, os economistas apresentaram algumas hipóteses, como a do capital humano, pois em 1920, apenas 23% dos brasileiros, de todas as idades, conseguiam ler ou escrever. Já entre os imigrantes, a taxa era de 52% .
Na prática, portanto, os imigrantes do mundo inteiro, de uma ou outra forma, continuam contribuindo para o crescimento do País e a melhoria da qualidade de vida de toda a população, merecendo por isso o nosso reconhecimento e nossa gratidão.
*O autor é deputado federal pelo Paraná
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