Neste domingo, completaram-se 45 anos de um dos episódios mais controversos da história do futebol paranaense. Em 30 de novembro de 1980, o Cascavel Esporte Clube enfrentou o Colorado, de Curitiba, na Vila Capanema, em uma final marcada por tensão, expulsões, acusações de favorecimento e o episódio que ficou conhecido como o "jogo do cai-cai". A decisão terminou com a divisão do título estadual, o único da história de Cascavel.
Para muitos dos protagonistas, a divisão foi injusta. O ex-atacante Paulinho Cascavel relembra que o regulamento favorecia o clube do Oeste, que poderia perder por até cinco gols de diferença. "Acho que foi superinjusta a divisão. O regulamento era extremamente favorável. Podíamos perder de 4 ou 5 a 0. No intervalo estava 2 a 0, e com tudo que aconteceu naquele jogo, a comissão e a diretoria decidiram pelo cai-cai. Até hoje acho que foi muito mal dividido."
Renê Stanzione, que também estava em campo, reforça a indignação: "Achei injusto termos sido colocados para jogar Série B, Série C, enquanto o Colorado foi para a Série Ouro. Jogar na capital era duro." O goleiro Zico concorda: "Pelo regulamento, o campeão era nosso. Tava 2 a 0 e terminava 1 a 0. Mas repartiram o título e ficamos na Prata. Saímos no prejuízo."
A lembrança do clima que envolveu a partida ainda causa desconforto nos jogadores. Renê relata que o ambiente na Vila Capanema já era hostil antes mesmo do apito inicial. "Dentro do vestiário tinha trabalho de macumba, de tudo. Foi um clima bem tenso." Zico conta que quatro jogadores foram chamados para uma conversa reservada no hotel pelo técnico Borba Filho, o que gerou desconfiança no grupo.
Durante a partida, o Cascavel teve dois expulsos, Maurinho e Marcos Cavalo, e ficou cada vez mais pressionado. Com o placar em 2 a 0, o árbitro Tito Rodrigues expulsou jogadores, marcou faltas contestadas e criou, segundo os atletas, a sensação de que o Colorado seria favorecido. A equipe então aderiu ao cai-cai, estratégia confirmada pelo ex-presidente Nelson Vetorello: "Borba Filho disse que não tinha outra solução. Ou fazíamos isso ou perderíamos o título."
Zico afirma que realmente se machucou, mas admite que, no vestiário, a saída dele foi definida como parte da estratégia: "Machuquei a virilha, não conseguia mais chutar. No vestiário decidiram: dois expulsos, o Zico cai. Foi armado."
O goleiro diz ainda que, anos depois, já no Colorado, ouviu do presidente do clube um comentário que levantava suspeitas sobre o árbitro: "Ele falou que o juiz teria ganhado uma casa na praia. Não sei se é verdade, mas ouvi isso lá dentro."
A divisão do título abriu discussões sobre critérios de competição, influência política e a força dos times do interior. Vetorello recorda que buscou apoio até no governo estadual: "Fui ao governador Ney Braga e ele disse: ‘Você sai daqui com metade do título para Cascavel e metade para o Colorado’. Pedi a taça para trazer para Cascavel, porque a cidade merecia."
Passadas mais de quatro décadas, os jogadores ainda carregam orgulho daquele time que desafiou a capital. "Foi um impulso enorme para todos nós, quase todo mundo no começo da carreira. É um orgulho até hoje poder contar essa história para os mais jovens", concluiu Paulinho.
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Reportagem de Deivid Souza | EPC - ESPORTE, POLÍTICA E CIDADANIA
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