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Na ONU, Bolsonaro combateu desinformação com desinformação, diz Xico


No jogo ambiental, cheio de artimanhas, é preciso ter astúcia, ser brejeiro. Quem der botinada, perde. Essa é a sina de Jair Bolsonaro: ele prefere chute de bico ao drible elegante. Por isso tomou de goleada na ONU. Vamos ser francos: é notório que existe uma guerra de informação, organizada, na temática ambiental, contra o governo do capitão-presidente. Assim como aconteceu, ano passado, com os incêndios da Amazônia, ou naquele estranho petróleo que sujou a costa nordestina, agora no Pantanal também se percebe forte viés político no tratamento do assunto. A situação dos incêndios é realmente grave. Questões técnicas importantes, porém, não podem sucumbir no debate político. Veja 6 informações factuais que corroboram minha opinião: O Pantanal ocupa 15 milhões de hectares no território brasileiro, entre o Mato Grosso do Sul e o Mato Grosso. Embora nele se pratique a pecuária por 300 anos, ainda continuam intactos 83% de sua cobertura vegetal nativa. É surpreendente. A agropecuária tradicional mantém, historicamente, o Pantanal bastante bem preservado. O rebanho na região pantaneira é escasso, cerca de 2,5 milhões de cabeças de gado, ou seja, uma rês a cada 6 hectares da área total. O sistema extensivo se dedica basicamente à criação de bezerros. Menos de 10% da área das fazendas é ocupada com pastagens. Claramente os pecuaristas não estão "destruindo" o Pantanal. É verdade que os incêndios se alastraram neste ano como nunca se observara. Mesmo assim, queimaram de 15% a 20% da área pantaneira. É triste ver o fogaréu deixando seu rastro enegrecido, afetando fauna e flora. Mas, logo, com as chuvas chegando, a vegetação se regenerará, os animais retornarão. Existe um ciclo natural que permanece. Equivoca-se quem pensa que foram os fazendeiros que atearam fogo no Pantanal. Entre os focos iniciais de incêndio, sim, destacam-se as queimadas de pasto que, mal conduzidas, fugiram do controle e se alastraram; mas a maioria das fontes de calor apontadas pelos satélites se concentra em áreas próximas das cidades e das estradas. Até coleta de mel serviu para atear fogo na mata. Ação humana, não criminosa. A seca no Pantanal é a maior registrada nos últimos 55 anos, atestada pelo Serviço Geológico do Brasil, no baixíssimo nível das águas do rio Paraguai. Em Corumbá, a Embrapa marcou 2,10 metros na altura das águas do rio, a menor marca de 47 anos; a média, nesse período, é de 5,6 metros. Em consequência, ao rebaixar a calha do escoadouro natural, toda a bacia pantaneira secou, pois lá a declividade do terreno é baixíssima. Tremenda massa vegetal, exposta ao sol abrasador, virou combustível para os grandes incêndios. A seca extrema está associada ao fenômeno climático "La Niña", conforme reconhece a insuspeita WWF. O sofrimento dos pecuaristas pantaneiros está sendo enorme. Segundo a Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso), a proporção das perdas, em estrutura (currais e cercas), pastagens e rebanhos, é gigantesca. Tem produtor que perdeu tudo, incluindo a sede da fazenda. Vídeos correram a internet mostrando cenas chocantes de animais mortos pelas chamas. A tragédia ambiental se confunde com a tragédia humana. Apenas uma matéria, do Estadão, mostrou isso. Conclusão: fatores múltiplos, fortuitos ou acidentais, provocaram a triste e grave situação que vemos do Pantanal. Não se pode minimizar o problema, tampouco deturpá-lo pelo jogo da política imbricada com o meio ambiente. Força a barra quem culpa o governo de Jair Bolsonaro pela desgraça pantaneira. O presidente da República tinha uma oportunidade de ouro para colocar as coisas em seu devido lugar: a abertura da Assembleia da ONU. Bastava apresentar os fatos, argumentar para combater as fofocas. Só que não. Jair Bolsonaro defendeu-se apontando os "índios e os caboclos" como responsáveis por colocar fogo no Brasil. Menosprezou totalmente a opinião pública. Tentou combater a desinformação com mais desinformação. No jogo mundial do meio ambiente, equivaleu a uma provocação barata. Irritou. A canelada de Bolsonaro em seus críticos ficou pior quando ele afirmou que no Brasil existe tolerância zero com o crime ambiental. Funcionou como uma cuspida na cara dos adversários. Tomou gol contra. As botinadas de Bolsonaro no jogo internacional do meio ambiente significam derrota na certa. Insistir nessa pancadaria, tratando a agenda ambiental como se fosse uma guerra por soberania, ou uma perseguição pessoal, prenuncia uma goleada mundial contra os interesses do Brasil. E quem vai sofrer a perda é o agronegócio. Chega de mediocridade ambiental. O agro moderno, tecnológico e sustentável não teme o jogo global do meio ambiente. Sabe, porque se aplicou, disputar dentro das regras que, hoje, estabelecem a competição comercial. Cabeça erguida, altivez. Nem inocência, nem botinada. Nem conversa fiada. Competência.

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