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Insegurança alimentar é o atual pesadelo de Cuba - por Xico Graziano


Raúl Castro entrega, nesta 5ª feira (19), o governo em Cuba. Desde a saída de seu irmão Fidel, a ilha enfrenta sua verdade. Muitos sonhos se transformaram em pesadelos. O pior deles se chama insegurança alimentar. O fracasso da agricultura cubana é uma terrível herança da revolução socialista iniciada há 60 anos. Cuba tem importado, na última década, de 60% a 80% da comida básica de seu povo. Gasta anualmente cerca de 2 bilhões de dólares comprando arroz, milho, soja, feijão, leite em pó e frango. Quase tudo. Tudo começou em 1959, ano marcante na história mundial da reforma agrária. Foi quando, tomado o poder, Fidel Castro iniciou o processo de expropriação das terras cubanas. Começou pelas propriedades maiores, acima de 420 hectares. Depois, em 1963, ampliou a expropriação para as médias, até 88 hectares. Implantou o cooperativismo estatal, no clássico modelo comunista. A revolução cubana provocou reações no continente americano. Era preciso se contrapor aos ideais revolucionários, propagandeados por Che Guevara. Formulou-se, então, nos EUA, a doutrina da Aliança para o Progresso e, financiados pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), inúmeros projetos de reforma agrária começaram a ser executados no Peru, Bolívia, Chile, Brasil. Parece contraditório. Mas a estratégia era, com a redistribuição fundiária, criar uma nova classe média no campo. Para a oligarquia rural, era melhor entregar os anéis para não perder os dedos. Símbolo da revolução cubana no campo, as enormes cooperativas estatais passaram a dominar a produção agropecuária da ilha. Principalmente na lavoura da cana-de-açúcar. A comercialização, controlada pelo Estado, vendia o açúcar com preços elevados para a União Soviética. Assim, com pesados subsídios, se financiava o modelo agrícola cubano. Tudo funcionou bem até a queda do muro de Berlim. A partir da década de 1990, sem a mamata do dinheiro soviético, a economia cubana entrou em parafuso, o que atingiu fortemente a agricultura. Em 2008, com o afastamento por doença de Fidel Castro, Cuba procurou caminhos alternativos. E para enfrentar a crise alimentar, Raul passou a distribuir parte das terras estatais, que estavam ociosas, para produtores independentes, os campesinos. Na estratégia da nova economia agrária cubana, duas diretrizes se destacaram: a) o incentivo às hortas urbanas; e b) a ênfase na agricultura "agroecológica", uma doutrina anticapitalista baseada na mão-de-obra familiar e na agricultura orgânica. Foram assim, no período de alguns anos, entregues 1,7 milhões de hectares para cerca de 280 mil produtores, estimulados a produzir alimentos em pequena escala. Os ideólogos cubanos comemoraram essa espécie de refundação do socialismo, uma ideia que entusiasmou o governo petista do Brasil. Dilma, então presidente, visitou a ilha em janeiro de 2012 e anunciou a liberação de um crédito de US$ 70 milhões para a agricultura familiar de Cuba. O MST enviou militantes para troca de experiências e treinamento, sabe-se lá do que. Virou must da esquerda: combater o imperialismo com a agroecologia. O louvor ideológico, porém, jamais sobrepujou a dura realidade. A maioria dos novos "campesinos" não progrediu, outro tanto perdeu a terra por desvio de finalidade. Os níveis de produtividade agrícola pouco subiram. As importações de comida se ampliaram. Em 2014, a inflação dos alimentos bateu em 27%. Não se sabe toda a verdade. É sabido que as informações sobre Cuba sempre foram contaminadas pela paixão ideológica. No caso da agricultura, um verniz bucólico sublimou o modelo "urbano-agroecológico" de Raúl Castro. Em tese, uma maravilha; na prática, pouco resultado. Tomara que Miguel Díaz-Canel, que doravante comandará Cuba, coloque os pés no chão. E livre a ilha desse esquerdismo romântico enamorado pelo atraso. A agricultura produtiva e sustentável, em qualquer lugar do mundo, se constrói com mais, não com menos, tecnologia. Esquerdismo agrário soa bem, mas não alimenta ninguém.


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