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Júri de Manvailer debate mais de oito mil mensagens de WhatsApp

Quem ficou no centro das perguntas foi o empresário André Manvailer, irmão do réu Luis Felipe


Imagem de Capa

O empresário André Manvailer, irmão do professor Luis Felipe Manvailer foi ouvido na noite dessa sexta (7) pelo Tribunal do Júri como informante. O interrogatório, de ontem (7) fez parte da reta final do julgamento onde o réu é acusado de matar a esposa, Tatiane Sptizner. Isso ocorreu na madrugada de 22 de julho de 2018. A briga entre o casal começou num bar da cidade, durante a comemoração de aniversário de Manvailer. Arrolado pela banca de defesa, as perguntas a André foram pautadas pela índole de Manvailer. Entretanto, outro fator que exigiu muito tempo dos advogados, foram mais de oito mil mensagens pelo WhatsApp trocadas entre o casal, de Tatiane com amigas e com o pai a quem ela tratava como "Jorge" ou "Jorjão". Entretanto, o início trata sobre a família do réu. De acordo com o informante, os três irmãos são filhos de uma família cujo pai era assessor de conselheiro no Tribunal de Contas do Mato Grosso do Sul. Ele morreu há 12 anos, vítima de câncer. MENSAGENS POR WHATSAPP Entretanto, no decorrer do depoimento, a defesa apresenta mensagens de WhatsApp entre Tatiane e Manvailer. E desta com o pai. Assim, os teores expõem o ciúme de Tatiane em relação ao esposo. Além da baixa-estima da advogada, da carência afetiva e sintomas de depressão. Entre as mensagens ela manda uma foto do antebraço auto-mutilado (arranhões). Conforme a defesa, ela se arranhou, fotografou as lesões e enviou ao esposo, dizendo "olha o que você fez". Todavia, outras mensagens a Manvailer, que fazia doutorado na Alemanha - ambos moravam lá - , ela dizia que pensava em suicídio e na maneira como praticaria esse ato. Isso ocorreu em 2014 quando moravam na Europa. De acordo com inúmeras mensagens expostas em vídeo, Tatiane insiste que teme estar depressiva. Num contato virtual com Manvailer ela diz que não para de pensar em tirar a vida, que perdeu "o tesão de viver". Num dos contatos com o pai ela afirmou que não sabia se estava com depressão ou síndrome de pânico. Esse autodiagnóstico continua sendo comunicado por Tatiane tanto para o esposo quanto ao pai. Além disso, o ciúme da advogada, em relação as alunas de Manvailer em Guarapuava também são evidenciadas no diálogo virtual entre o casal. De acordo com André, o irmão não podia tomar banho, vestir uma camisa e nem passar perfume para ir dar aulas. A VIDA DE MANVAILER Conforme André, ele, Manvailer e a irmã Mariana nasceram e foram criados em Curitiba. Filhos de Rita e Pedro, estudaram nos melhores colégios e são graduados em Informática, Biologia e Turismo, respectivamente. Com mestrado, Manvailer é doutorando na Alemanha. Foi para que Tatiane pudesse o acompanhar ao exterior que os dois se casaram, após terem sido noivos. André diz que pouco sabia do relacionamento do casal e que muitos incidentes só teve ciência após a morte da cunhada. "Isso porque a nossa família dá espaço para o outro ser. Não questiona. Só pergunta se está feliz. Se fala que não está, pergunta o que pode fazer para ajudar". Entretanto, segundo André, se fizer alguma coisa errada, ele não passa a mão. "Sei que meu irmão errou", diz referindo-se às agressões de Manvailer contra Tatiane no dia do fato. "Ele errou, mas meu irmão não matou. Ele usou de uma força não cabível contra uma mulher. Rechaço aquela atitude pontual, sim". Ele trata o caso como "incidente" e "tragédia" que destruiu duas famílias. De acordo com André, ele e o irmão são praticantes de artes marciais que exigem "muita disciplina". Avalizando a conduta do irmão, André disse que Manvailer é uma pessoa pacata, com vida ilibada, que nunca se envolveu em um "fiapo de briga". Nem mesmo os dois possuíam um bar em Curitiba. EM GUARAPUAVA A defesa continua mostrando mensagens, todas periciadas pelo Instituto de Criminalística do Paraná, segundo Dalledone. Traçando um padrão de conduta de Tatiane, mensagens virtuais continuam sendo expostas. Em algumas, ela pede dinheiro ao pai, diz que está passando dificuldades financeiras. Numa delas ela diz que não tem dinheiro nem para comer. Diz que "que jogou merda na cruz". Também comenta: Antes eu tinha vida de princesa, mas que era vazia. Agora estou completa, mas tendo vida de miserável. De acordo com André, a família Manvailer sempre fez remessas financeiras ao casal quando o irmão pedia. "Inclusive ajudamos no apartamento aqui de Guarapuava". Já na cidade,Tatiane volta a trabalhar como advogada. Manvailer começa a dar aula de inglês e depois em duas faculdades. Entretanto, segundo exposição da defesa, corroborada por André, Tatiane gostava de uma vida de luxo. "Ela quis comprar um Cruze e meu irmão foi contra, mas ela insistiu e ele ajudou a comprar". Assim, durante revezamento entre os advogados Gustavo Scandelari, Dalledone e Renan Canto, mostraram diálogos em redes sociais que mostravam também o relacionamento íntimo entre o casal e as respectivas famílias. Também fica evidente o afeto entre o casal, de ambas as partes. Em determinado momento, André diz que possui nenhuma intenção de expor a vida da Família Spitzner, mas que está contando fatos que são necessários para recompor a reputação do irmão. Dessa forma, parte do patrimônio da família foi citada. São veículos, imóveis, entre outros bens, que estão em nome de Tatiane. ACUSAÇÃO PERGUNTA Depois de mais de quatro horas de atuação da defesa, chegou a vez da acusação se manifestar. O promotor Pedro Papaiz expõe um documento médico de uma consulta que Tatiane fez em Curitiba. De acordo com o promotor, André disse no primeiro depoimento que o casal foi acompanhado pela mãe de Manvailer ao médico. Tatiane sentia dores fortes na barriga. Quando saiu ela disse à sogra que havia sofrido um aborto espontâneo. Entretanto, um atestado solicitado ao mesmo médico que a atendeu, diz que Tatiane nunca esteve grávida. ''Reafirmo o que minha mãe disse. Minha mãe não mente''. Nessa parte a mãe de Manvailer fica em pé no plenário. Outro questionamento do promotor remete à afirmação de André de que o irmão é uma pessoa idônea e avesso à brigas. Papaiz mostra uma postagem de Manvailer em rede social onde diz que esteve no Emporio, pub em Curitiba. Ele escreve que precisou três seguranças para tirá-lo de lá. Conforme André, ali não está escrito que o irmão brigou ou provocou uma briga. Em outra pergunta, o promotor quer saber como ele define ''proximidade'' e qual é a incidência em que se visitavam. André responde que antes do fato veio a Guarapuava apenas uma vez. Entretanto, após a morte de Tatiane, esteve na cidade todas as semanas, nos dias de visitas na Penitenciária Industrial de Guarapuava, onde o irmão está preso. ''Desde o fato eu larguei a minha vida para amparar o meu irmão. A minha mãe acaba de sair de um câncer, sofre depressão e síndrome do pânico. O senhor sabe o quanto custou pra ela entrar numa prisão'' Diz também que na Família Manvailer, amor é isso. ''Não é mandar mensagens por WhatsApp. Se isso não for amor, então não sei o que define''. ANABOLIZANTES Em seguida, a pergunta trata de anabolizantes. Assim, o promotor expõe fotos de caixas de remédios receitados pelo cardiologista Rodrigo Crema. André diz que conhece os medicamentos e, que inclusive, toma um deles. Há fórmulas manipuladas em nomes de Manvailer e de Tatiane. Todavia, durante a atuação do promotor, o advogado Gustavo Scandelari, assistente da acusação, pede para entregar cópias de documentos aos jurados. Em seguida, o promotor retoma e pergunta se Manvailer teria mencionado nada sobre divórcio com Tatiane. ''Não, ele nunca falou em separar''. Então o promotor menciona uma afirmação de Manvailer em entrevista ao repórter Roberto Cabrini. Ele disse que Tatiane tinha medo de perdê-lo. Uma ata notorial é mostrada em cópia. Nela uma mulher conta sobre uma conversa com Tatiane. Ela falou sobre uma conversa com Manvailer. ''Tatiane diz que fazia um mês e meio não transavam, que Manvailer estava tomando bomba e que tinha mudado de comportamento''. Em outra parte, confessa a uma amiga que estava desconhecendo o esposo e que estava pensando em divórcio. Que Manvailer estava egocêntrico, só pensava no próprio corpo''. De acordo com o promotor essa amiga a alertou para que tivesse cuidado. O promotor questiona se André soube se houve mudança de comportamento do Manvailer. ''André diz que não e que o irmão nunca falou em falta de libido com ele''. Em relação ao mesmo documento, o promotor lê que Tatiane confessa à uma amiga que o marido disse que a odiava de morte. André responde que nunca soube disso e que é comum entre casais, no calor de uma discussão, dizer que um odeia o outro. MEDO DO ESPOSO A próxima pergunta é se André conhece algum fato para que Tatiane tivesse medo de Manvailer. André diz que não. Em seguida, Pedro Papaiz, questiona sobre a saúde mental de Manvailer e lê nova parte do documento. Nele, Tatiane diz a uma amiga que o marido lhe disse que depois que retornaram da Alemanha ele nunca mais voltou ao normal. Que a orientadora do doutorado exigia demais dele. Em seguida, novo contato entre as duas amigas quando Tatiane escreve: ''divórcio em andamento''. Isso ocorreu um mês antes dela morrer. Entretanto, o promotor se reporta à tentativa de suicídio de Manvailer na prisão. Mostra um exame do CAPS II, unidade de saúde mental. André disse que sabe, sim, que foi posterior ao episódio na PIG. ''Uma pessoa que vê a esposa que ama estatelada no chão, vai preso e fica por 21 dias incomunicável, entra em desespero. Eu mesmo fui a um psiquiatra e nem por isso sou louco''. Quando o promotor acaba a atuação quem assume o interrogatório é Scandelari. Mais uma vez o relatório do psiquiatra é mostrado pelo advogado. Entretanto, os ânimos ficam alterados entre a acusação e defesa. Em seguida, Scandelari pergunta sobre a crença religiosa de Manvailer. De acordo com advogado numa conversa com o psiquiatra, ele disse era ateu. Todavia, na PIG começou a ler a Bíblia. PARECER DE UMA PERITA Outro ponto do interrogatório mostra um parecer feito por uma perita a pedido da família de Tatiane. A psiquiatra analisa as mensagens de WhatsApp. São 10.808 páginas transcritas. Na página do parecer, Scandelari lê um dos diálogos onde Tatiane reclama de Manvailer bater coisas. Questionado, André disse que já viu o irmão ficar nervoso e dar um soco na parede. Em outra troca de mensagens entre ambos, Scandelari lê expõe o ciúme de Manvailer contra Tatiane. Ela diz que gosta de ''dançar com as meninas'' e que ele a chamou de ''vaca''. Na página 12, em outra mensagem destacada pela perita, de setembro de 2016 há uma cobrança de Manvailer. Ele a questiona porque ela não atende o telefone e fala sobre depósito bancário e diz que o dinheiro já está conta. De acordo com o advogado, em outras conversas a vítima reclama que o marido a chama de ''burra, insuportável, vá pro inferno''. Na maioria das perguntas, André responde que desconhecia os fatos citados. SOBRE O OCORRIDO André relata ao Ministério Público e assistentes da causação que ouviu do irmão sobre o dia fatídico. Conforme o irmão do réu, Manvailer contou que houve uma discussão porque Tatiane queria o celular dele para ver mensagens. Entretanto, ele disse que entregaria e que pediu para parar com a briga. ''Ele foi tomar água e quando voltou [à sacada] viu ela transpondo a sacada. Ele correu, mas não deu tempo de segurá-la. Ele me disse: quando vi ela estava no chão''. De acordo com André, Tatiane quis subjugar o marido. ''Houve uma tragédia que destruiu duas famílias. Ela [Tatiane] quis fazer um joguete que acabou dando errado''.

RSN

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