Cascavel discute criação de delegacia especializada para enfrentar alta nos crimes de trânsito

O crescimento no número de acidentes e crimes de trânsito em Cascavel tem preocupado autoridades e lideranças locais. A cidade, que se aproxima dos 370 mil habitantes e possui uma frota superior a 282 mil veículos, já registrou 2.300 acidentes neste ano, com 500 pessoas feridas e 27 mortes — sendo 9 em área urbana e 18 em rodovias.

A presidente do Conselho Municipal de Trânsito (Cotrans), Luciane de Moura, chama a atenção para a mudança no perfil do tráfego local. "As pessoas imaginam que a cidade ainda é pequena e acabam exagerando no trânsito. Você sai na rua e vê capotamentos, avanços de preferencial e de semáforo todos os dias. A gente precisa, sim, investigar."

Segundo Edir Veroneze, da Polícia Rodoviária Federal em Cascavel, o aumento populacional e da frota está diretamente ligado à imprudência e ao desrespeito às leis de trânsito. "Esses resultados negativos se devem, claro, ao aumento de veículos, ao aumento de pessoas nas rodovias e, também, à imprudência, à imperícia, à negligência — em situações que poderiam ser evitadas."

Diante da situação, autoridades discutem a criação de uma delegacia especializada exclusivamente em crimes de trânsito. Atualmente, essa responsabilidade é da Polícia Civil e, nos casos com vítimas fatais, a apuração fica a cargo da Delegacia de Homicídios.

"Não que as outras delegacias não façam esse trabalho, mas não há pessoal suficiente para absorver mais essa demanda. Cascavel precisa de uma estrutura exclusiva. Uma delegacia especializada em trânsito vem para somar com o nosso trabalho e vai contribuir muito com a educação também", reforça Luciane.

Com esse objetivo, foi realizada uma audiência pública nesta quinta-feira (3), na Câmara de Vereadores de Cascavel, para discutir a viabilidade da nova estrutura. A ideia é inspirada em modelo semelhante já em funcionamento na capital, Curitiba, onde a delegacia especializada atinge mais de 90% de esclarecimento nos casos envolvendo mortes no trânsito.

O vereador Hudson Moreschi destacou a gravidade da situação:

"Infelizmente, os dados mostram que nosso trânsito é extremamente violento. De janeiro até agora, foram 2.300 sinistros, mais de 500 pessoas feridas e 27 mortes. Por isso defendemos a criação da delegacia de trânsito, que além de investigar e buscar responsabilizações, atuará também na prevenção, ajudando a evitar acidentes e a aliviar o sistema único de saúde, hoje sobrecarregado, principalmente por ocorrências com motociclistas."

Moreschi acrescenta que o próximo passo será encaminhar um ofício ao Governo do Estado, via Secretaria de Segurança Pública, solicitando apoio técnico e político.

"Todos os dados da audiência serão sistematizados. Teremos a presença do delegado da Detetran de Curitiba, de Santinho Roveda, presidente estadual da instituição, além de secretários municipais e deputados. Vamos unir forças para pedir com embasamento técnico essa nova delegacia."

Sobre prazos, ele pondera:

"É difícil prever. Estamos apenas iniciando o movimento de sensibilização. Mas é daqui, da casa do povo, que pretendemos construir agendas propositivas junto ao governo estadual para, quem sabe em breve, ver essa delegacia implantada."

O deputado estadual Oziel Luiz de Souza, o Batatinha, autor do requerimento para a criação da delegacia, também se manifestou.

"Esse pedido foi feito em Curitiba após a morte de Franciele Alves, de 27 anos, no perímetro urbano. Naquela época, tínhamos 22 vítimas fatais; agora já são 27. Por isso, em conjunto com as autoridades e a sociedade, queremos trazer para Cascavel uma Detetran, com delegados especialistas e profissionais capacitados para atuar tanto na investigação quanto na prevenção, com justiça e rigor nas punições."

Reportagem de Caio Vasques e Leandro Souza | EPC - ESPORTE, POLÍTICA E CIDADANIA