Encontro reúne IGs do Sul e amplia oportunidades para produtores, chefs e compradores

O encontro de negócios "Descobrindo Tesouros - Conexões IG Sul" realizado no Mercado Municipal de Curitiba, nesta terça-feira (9), reuniu pequenos empreendedores e empresas que têm produtos com Indicações Geográficas (IG) dos três estados da Região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul).

A ação, promovida pelo Sebrae/PR em parceria com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-PR), Senac PR, Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab-PR), Prefeitura de Curitiba e a Associação dos Comerciantes Estabelecidos no Mercado Municipal de Curitiba (ASCESME), buscou fortalecer a integração regional e ampliar a visibilidade dos produtos de origem.

A rodada de negócios aproximou produtores de chefs, imprensa especializada e potenciais compradores. Os mais de 20 produtos presentes, reconhecidos pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) ou em processo de IG, incluíram vinhos, queijos, embutidos, cafés, frutas, cachaças, mel, broas e itens tradicionais que expressam a identidade cultural de seus territórios.

A consultora do Sebrae/PR, Maria Isabel Guimarães, destacou que os três Sebraes que mobilizaram produtores de seus estados para participar da missão técnica e apresentar seus produtos em rodada de negócios. Ela explicou que a iniciativa é parte do projeto Destino Sul, que busca posicionar coletivamente os produtos de origem da região e o turismo.

"Unir os três estados amplia a nossa presença e cria oportunidades maiores do que cada um isoladamente. É uma ação focada em mercado, conectando produtos e serviços da área de turismo para reforçar essa identidade comum do Sul. Para nós, no Paraná, 2025 foi um ano especial, com oito novas IGs reconhecidas. Trabalhar em conjunto com Santa Catarina e Rio Grande do Sul fortalece ainda mais essa imagem para o consumidor e consolida os produtos de origem como referência", afirmou a consultora.

Palestras e aulas de gastronomia

A programação do dia contou ainda com aulas de gastronomia do Senac e uma palestra sobre organização de festivais culinários com foco em produtos de Indicação Geográfica.

O palestrante Sérgio Medeiros, coordenador do Fórum Origens Paraná, diretor da Associação dos Amigos da Onça e diretor da Curitiba Honesta, compartilhou sua experiência na criação de festivais gastronômicos desde 2013 e apresentou aos produtores um passo a passo para organizar eventos baseados em produtos de IG. Ele explicou que o processo envolve escolher um produto, mobilizar os cozinheiros, captar apoio e definir estratégias de divulgação.

"Mostrei como transformar um produto único em protagonista de um festival. É preciso provocar os cozinheiros, criar pratos, envolver bares e restaurantes, centralizar informações e usar os recursos disponíveis. Um festival movimenta a cadeia inteira e traz novos consumidores para lugares que talvez eles nunca frequentariam. Os produtos de IG são verdadeiros itens de luxo: comer menos, mas comer melhor. Nosso papel é fazer essa conexão e mostrar o valor desses produtos", disse Sérgio.

Durante todo o dia, o Senac realizou aulas que exploraram diferentes produtos de origem, incluindo: técnicas de preparo e degustação de cafés especiais do Norte Pioneiro; produção da torta de uva de Marialva com creme de camomila de Mandirituba; elaboração de hambúrguer de cordeiro de Cantuquiriguaçu em broa de centeio de Curitiba com aioli de erva-mate e cebola caramelizada com melado; novas abordagens para grãos, do campo à xícara.

Quem passou pelo evento foi o chef Ivan Lopes, que se surpreendeu com a diversidade e com a qualidade dos produtos dos três estados do Sul. Ele relatou que experimentou ingredientes que não conhecia e que já iniciou contatos para levar alguns deles ao seu restaurante.

"Tem produtos incríveis aqui, do mel de melato às cachaças e aos queijos. Já tive várias ideias só de caminhar pela feira. É um evento muito rico, tanto para produtores quanto para nós que buscamos novas possibilidades e sabores para o cardápio", compartilhou Ivan.

Indicações Geográficas

O proprietário do café Ouro do Norte e presidente da Associação de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná (Acenpp), Jonas Aparecido da Silva, de Pinhalão, apresentou o café no evento, ao lado de outras IGs da Região Sul.

Jonas explicou ainda que Curitiba, por ser uma das cidades com maior concentração de cafeterias no país, é um espaço estratégico para dar visibilidade ao produto e à marca que representa e afirmou que o evento permitiu fechar negócios, aproximar-se de produtores de queijo, cachaça e vinho, e fortalecer conexões importantes para o setor.

"Para nós, estar aqui é uma grande vitrine. Curitiba ama café; então, apresentar o Norte Pioneiro neste mercado é fundamental. A gente conversa com produtores de queijo, cachaça, vinho, fecha negócio, aprende. Todo mundo cresce quando trabalha com qualidade, rastreabilidade e IG", afirmou Silva.

Debora Alves, proprietária do Burguer Bar, em Curitiba, destacou que o evento foi uma oportunidade única para valorizar os produtos reconhecidos do Paraná e promover a cultura gastronômica do estado. Representando a carne de onça de Curitiba, ela acrescentou que participar de um espaço que reúne IGs dos três estados do Sul reforça a importância do prato que, em 2025, conquistou sua Indicação Geográfica.

Ela explicou que a carne de onça é o único prato do Brasil com duas IGs, pela carne e pela broa de centeio, e comentou que o nome curioso desperta perguntas e abre espaço para contar a história e o significado cultural da receita.

"Estar aqui é um privilégio. A carne de onça é patrimônio cultural do Paraná. Muita gente pergunta se é carne de onça mesmo e isso nos permite contar a história e a cultura por trás do prato. Esses encontros fortalecem conexões, inspiram parcerias e mostram o potencial da nossa gastronomia", destacou Debora.

De São Mateus do Sul, as irmãs Ângela e Ana Cláudia Zampier, representantes da Zampier Erva Mate Orgânica, estiveram presentes apresentando a erva-mate São Matheus. Elas afirmaram que o evento é uma oportunidade essencial para que produtores apresentem seus produtos diretamente ao consumidor, evidenciando diferenciais, processo e história, algo que muitas vezes não é possível apenas ao colocar o produto nas prateleiras dos supermercados.

Ana Cláudia destacou que o formato do evento facilitou o contato pessoal, fortaleceu a rede de produtores do Paraná e estimulou integração com IGs de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. "Aqui pudemos apresentar e falar sobre o nosso produto. Mostramos como ele é feito, explicamos suas qualidades e nos conectamos diretamente com o consumidor. Isso fortaleceu os produtos do Paraná e criou uma integração muito rica com os outros estados", disse.

De Urussanga, Eliza Santos representou a Trevisol Vinícola. Ela afirmou que o evento é significativo especialmente neste ano, em que Santa Catarina recebeu sua Denominação de Origem. Ela destacou que ainda há muito mercado a ser aberto e que muitas pessoas de outros estados desconhecem a IG catarinense e o evento foi uma oportunidade estratégica para apresentar o produto e fortalecer a divulgação.

"Cada vinho apresentado aqui carrega características próprias, como no caso da uva híbrida cultivada em apenas 55 hectares em todo o mundo, localizados exclusivamente em nossa região. Apresentar isso em outros estados faz toda a diferença", afirmou Eliza.

A Olho Embutidos, de Pomerode, Santa Catarina, apresentou a linguiça Blumenau no evento. O representante comercial da empresa, Marcos Borges, relatou que o produto já não é apenas um complemento de um pão para o café da tarde e destacou que o evento foi uma experiência enriquecedora, permitindo conhecer outros produtores, produtos e descobrir maneiras de agregar valor tanto para vendas quanto para aprimorar o próprio produto.

"A linguiça Blumenau é um produto tradicional desde a colonização alemã. Deixou de ser apenas um acompanhamento simples para se tornar um item gourmet e hoje está presente em pratos elaborados, massas, hambúrgueres, recheios e até mesmo em versões inovadoras, como a pipoca feita durante a Oktoberfest. Nós mantemos o padrão de produção desde 1984, com seleção de carnes nobres, uso de tripa natural e defumação em carvão", contou Marcos.

Borges acrescentou que o apoio do Sebrae é sensacional e agora só os 16 municípios do Vale do Itajaí podem usar o nome Blumenau. "Cada produto com IG tem uma história e um merecimento e eventos como esse fazem a gente aprender e valorizar ainda mais o que produz", finalizou.

Para Simone Bica, proprietária Dona Xica Doces de Pelotas, o evento foi uma oportunidade valiosa para compartilhar experiências com outros produtores de Indicações Geográficas, trocar aprendizados e buscar novos mercados para os doces de Pelotas.

Ela afirmou que, ao apresentar seus produtos tradicionais, como quindim, panelinha de coco, olho de sogra e camafeu, quatro dos 14 doces reconhecidos pela IG, percebeu o encantamento do público e o interesse crescente sobre rastreabilidade, qualidade e armazenamento adequado, especialmente para manter o padrão do produto mesmo quando transportado para outros estados.

"Quando tu comes um quindim de Pelotas, tu não tá comendo um doce: estás consumindo cultura e tradição de toda uma região. A troca com outros produtores nos mostra caminhos, ideias, sementes que a gente leva para casa para fazer um trabalho cada vez mais grandioso", disse Simone.

Valorização cultural e econômica

A Expedição "Descobrindo Tesouros - Conexões IG Sul" reafirmou a importância das Indicações Geográficas como instrumentos de valorização econômica e cultural dos territórios do Sul. A programação fortaleceu a troca de experiências, ampliou a divulgação dos produtos e reforçou a integração regional. Com apoio dos Sebraes dos três estados, as IGs ganham mais visibilidade e oportunidades de mercado, consolidando-se como referências de qualidade e identidade local.

Além dos empreendimentos citados, também estiveram presentes: Klas Café, de Pinhalão (PR); Sítio São Luiz Agricultura Familiar - Café Especial, de Tomazina (PR); Cooperativa Caprivir, Virmond (PR); Cooperativa Witmarsum, de Palmeira (PR); Machulek Produtos Coloniais, de Prudentópolis (PR); Venturin Apicultura, de União da Vitória (PR); Queijaria Artesanal Lita, de Paranavaí (PR); Banana da Região de Corupá (PR); Cachaça Ouro, de Morretes (PR); Monte Reale Vinícola, de Flores da Cunha (RS); Nina Doces e Imperatriz Doces Finos, ambas de Pelotas (RS); Boscato Vinhos Finos, de Nova Pádua (RS), Queijaria Pelizzari, de Bom Jesus (RS) e Vinícola Aurora, de Bento Gonçalves (RS).

Imagens: Inove

Assessoria