Nesta quarta-feira (2), completam-se 247 anos da morte de Jean-Jacques Rousseau, um dos maiores pensadores da história ocidental. Autor de obras decisivas para a política, a educação e a filosofia moderna, Rousseau morreu em 2 de julho de 1778, aos 66 anos, na pequena comuna de Ermenonville, na França. Seus últimos dias foram marcados por uma vida reclusa, voltada à contemplação da natureza e à reflexão sobre a existência humana.
Filósofo, escritor, músico, romancista e botânico amador, Rousseau nasceu em Genebra, na Suíça, em 28 de julho de 1712, em uma família protestante. Ainda criança, perdeu a mãe e foi abandonado pelo pai, desenvolvendo um espírito solitário e autodidata. Seu amor precoce pelos livros, especialmente romances, foi o primeiro passo de uma longa trajetória intelectual que o levaria a contestar a ordem social e política do século XVIII.
Da glória à perseguição
Rousseau chegou a Paris em 1742 e, nos círculos iluministas, conquistou respeito como colaborador da Enciclopédia, organizada por Diderot e d’Alembert. No entanto, sua relação com os filósofos franceses se deterioraria com o tempo. Em 1750, venceu um concurso da Academia de Dijon com o Discurso sobre as Ciências e as Artes, onde defendia que o progresso corrompe os costumes. A tese foi recebida com surpresa e dividiu opiniões.
Dois anos depois, em Discurso sobre a Origem da Desigualdade, Rousseau denunciou as injustiças sociais nascidas da propriedade privada. Suas ideias ganharam força com a publicação de O Contrato Social e Emílio, ou da Educação, em 1762. O primeiro propunha a soberania popular como base do Estado; o segundo, uma nova concepção de educação voltada para a liberdade e o respeito ao desenvolvimento natural da criança.
Ambos os livros foram proibidos e queimados publicamente na França e em Genebra. Acusado de heresia, Rousseau recebeu mandado de prisão e passou a viver como foragido em diversos cantões suíços. Ainda assim, recusava recuar em suas convicções. "O homem nasce livre, e por toda parte encontra-se acorrentado", escreveu em uma das passagens mais célebres de sua obra política.
Pensador da natureza e da alma
Perseguido por reis, padres e até por antigos amigos — como Voltaire — Rousseau abandonou as luzes da cidade e buscou refúgio na natureza. Em Montmorency, escreveu o romance A Nova Heloísa (1761), sucesso editorial que unia paixão e virtude. Em seus últimos anos, dedicou-se a obras mais introspectivas, como As Confissões e os Devaneios de um Caminhante Solitário, pioneiros da literatura autobiográfica moderna.
Nessas obras, Rousseau mergulha em sua infância, amores, fracassos e perseguições. Ao contrário dos racionalistas de sua época, ele valorizava o sentimento, a subjetividade e a comunhão com a natureza. Foi um precursor do romantismo e do pensamento ambiental.
Morte e legado
Jean-Jacques Rousseau morreu subitamente em 2 de julho de 1778, possivelmente vítima de um AVC, no retiro oferecido pelo Marquês de Girardin, em Ermenonville. Inicialmente enterrado em uma pequena ilha do jardim local, seus restos mortais foram transferidos em 1794 para o Panteão de Paris, onde repousam ao lado de Voltaire — ironicamente, seu maior adversário intelectual.
Mais de dois séculos depois, Rousseau continua sendo referência central para educadores, filósofos e políticos. Sua visão do "bom selvagem", da sociedade corrompida e da liberdade como condição natural do ser humano influenciou profundamente a Revolução Francesa, o romantismo, o socialismo utópico e as pedagogias modernas.
Sua frase "a natureza nunca nos engana; somos sempre nós que nos enganamos" ecoa até hoje como alerta e inspiração.
Antonio Mendonça/ Catve.com
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