Nos últimos meses, o ouro reafirmou seu papel histórico como o ativo de segurança por excelência. Em meio a um cenário global de conflitos geopolíticos, tensões fiscais e incertezas monetárias, o metal precioso voltou ao centro das atenções dos investidores. Desde o início do segundo semestre de 2025, a cotação da onça-troy ultrapassou sucessivas máximas históricas, refletindo uma mudança estrutural na percepção de risco global.
A escalada das tensões no Oriente Médio e no Leste Europeu reacendeu o tradicional "flight to quality" — o movimento em que investidores buscam ativos considerados seguros.
Historicamente, cada ciclo de instabilidade internacional reacende o apetite pelo ouro: seja a Guerra Fria, o colapso financeiro de 2008 ou a pandemia de 2020. Em 2025, não é diferente. O aumento das tensões militares e a imprevisibilidade diplomática elevaram a demanda pelo metal, tanto por investidores individuais quanto por bancos centrais que buscam diversificação cambial.
O ouro, afinal, é um ativo sem risco de crédito, independente da política de qualquer governo. Diferente de moedas fiduciárias, ele não pode ser "emitido" para financiar déficits, e é por isso que, em tempos de desconfiança institucional, sua atratividade aumenta.
Curiosamente, o movimento atual marca uma mudança importante no paradigma de proteção. Por décadas, o dólar americano foi o porto seguro natural do sistema financeiro. Contudo, nos últimos trimestres, os investidores têm preferido o ouro ao invés do dólar.
Por quê?
Mais do que um ativo financeiro, o ouro carrega um valor simbólico. É o reflexo da busca humana por estabilidade em meio ao caos dos mercados. Ele não depende de balanços corporativos, de políticas monetárias ou de decisões políticas. É um ativo universal, reconhecido e aceito em qualquer parte do mundo.
Em períodos de turbulência, essa simplicidade ganha força. Quando a confiança nas instituições é abalada — seja por guerras, inflação persistente ou dívida pública —, os investidores buscam algo que transcende fronteiras, governos e moedas. E nada representa melhor essa ideia de segurança atemporal do que o ouro.
A valorização recente pode até perder fôlego com a estabilização dos conflitos ou com uma reancoragem das expectativas inflacionárias globais. Inclusive, hoje (21/10/25) o ativo sofreu a maior realização da história por conta de movimento técnico de mercado. Absolutamente normal após uma alta de quase 60% nos últimos 12 meses.
Ainda assim, o papel do ouro na carteira de investimentos se tornou estruturalmente mais relevante. Num mundo onde os riscos geopolíticos deixaram de ser exceção e passaram a ser o pano de fundo da economia global, o ouro voltou a ser mais do que um metal precioso: é uma linguagem universal de confiança.
texto de Ayslan Guetner
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