No ano de 2014 a realidade era completamente outra, a Chapecoense entrava como um "azarão" na elite do futebol brasileiro e para muitos analistas e comentaristas uma candidata fortíssima ao rebaixamento daquele ano. No entanto, o clube mostrou porque chegou aonde chegou em tão pouco tempo e fez uma ótima campanha dentro das possibilidades do clube e contrariando os especialistas. Ficou no 15º lugar à frente do Palmeiras que havia subido junto no ano anterior. Esta colocação lhe deu o direito de disputar o primeiro torneio internacional da sua história, que foi a Copa Sul-Americana.
No ano de 2015, a Chapecoense fez uma boa estreia em torneios continentais disputando a Copa Sul-Americana, eliminando o Libertad, um dos principais times do Paraguai, nas oitavas de final, e nas quartas a chape tinha pela frente o multicampeão e um dos principais clubes do continente, o River Plate, time que seria o campeão da Libertadores daquele ano. A chape fez dois bons jogos, foi um time muito aguerrido, chegou a estar a frente do placar no jogo em Buenos Aires, porém perdeu o primeiro jogo por 3x1. Na segunda partida o time por muito pouco não conseguiu a vaga, se não fosse a infelicidade do zagueiro Neto, que perdeu um gol na cara do goleiro nos minutos finais. Certamente, a história poderia ter sido outra e com o jogo terminando em 2x1 a Chape foi infelizmente eliminada.
Na temporada seguinte já no seu segundo ano na elite do Campeonato Brasileiro a chape começou ganhar mais respeito das outras equipes e da mídia, sempre tendo participações regulares em todas as competições. Esta temporada foi importante para a construção do sucesso e definitivamente ganhou o respeito dos clubes e o carinho das outras torcidas. Era uma equipe que parecia começar a trilhar o caminho do sucesso, fez talvez seu melhor ano até então na história do clube vencendo o campeonato catarinense de forma invicta, ganhando a final perante a equipe do Joinville.
Além disso, o clube fez uma ótima campanha na Copa Sul-Americana daquele ano, conseguindo classificações dramáticas, eliminando gigantes do continente como foi o caso do Independiente e San Lorenzo, ambos da Argentina. Nas semifinais, o furacão do Oeste se classificou no sufoco após empatar por 1x1 com o San Lorenzo na Argentina, bastava o empate de 0x0 em casa para conseguir a vaga. No entanto, não foi nada fácil, num jogo muito complicado a chape se segurou até o fim e no último minuto após um cruzamento e um bate rebate na área, o goleiro Danilo, fez uma defesa incrível que o falecido narrador Deva Pascovicci que transmitia o jogo em uma emissora de TV disse que foi o espírito de Condá (nome do índio da tribo Kaingang que dá nome ao estádio) que havia salvado a chape naquele momento. Após o apito final muita festa no gramado e no vestiário, pois a chape marcava história no cenário nacional, sendo o primeiro time de Santa Catarina a chegar a uma final continental, o adversário seria o forte time do Atlético Nacional de Medellín (Colômbia) que foi o campeão da Copa Libertadores daquele ano.
No dia 27 de novembro de 2016 a chape fazia o último jogo do Campeonato Brasileiro em São Paulo, no Allianz Parque, partida que selou o time palestrino (Palmeiras) como campeão nacional da temporada (2016). Neste jogo, a chape recebeu muito apoio do clube e especialmente da torcida do Palmeiras que gritava frases de incentivo das arquibancadas do estádio. Percebia-se com essas atitudes que cada vez mais a chape ganhava espaço no coração de cada torcedor não só do Palmeiras, mas de grande parte do Brasil, que abraçava o pequeno clube do oeste de Santa Catarina naquela decisão.
No dia seguinte a Chape viajou para a Colômbia em busca do seu primeiro título internacional. A Chapecoense vinha em estado de graça com sua torcida, resultado de um bom desempenho dentro das quatro linhas e um excelente trabalho da gestão e do marketing do clube. Este, sem dúvida, era o melhor momento da história do clube e o elenco contava com jogadores de muita qualidade e com grande experiência que aquela competição exigia, a maioria deles no melhor momento de suas carreiras, alguns até com propostas de outros grandes clubes do Brasil.
Porém, o inexplicável aconteceu. O voo 2933 que transportava a delegação do clube, jornalistas e convidados viajava no limite do combustível, situação essa que ninguém ligado ao clube de Chapecó tinha conhecimento, quem sabia era somente os pilotos e a tripulação. O relatório final do voo feito pela aeronáutica colombiana apontou que a tripulação temia que o avião poderia cair até duas horas antes do acidente ocorrer, o piloto deveria ter parado para abastecer. Ainda o relatório apontou que o avião viajava com 2.303 kg de combustível a menos que o regulamento internacional pede para voos, um avião deve ser abastecido suficientemente para chegar ao aeroporto de destino e ainda ter combustível suficiente para mais 30 minutos para caso precise pousar em algum aeroporto alternativo, leis que o então piloto e um dos donos da Lamia, Miguel Kiroga infeliz e irresponsavelmente ignoraram (GALLO e BARBOSA, 2018). Por fim, as investigações finais do voo 2933 da empresa boliviana apontou falta de combustível, ou seja, falha humana, pois o piloto desobedeceu a uma série de normas internacionais o que culminou na morte de 71 pessoas, incluindo ele.
O clube de Santa Catarina, buscando um sonho de ser campeão continental foi protagonista da maior tragédia envolvendo o futebol brasileiro em todos os tempos.
GALLO, R.; BARBOSA, D. Pilotos falaram sobre o risco de combustível acabar mais de duas horas antes do avião da Chape cair, aponta relatório final. Disponível em: www.g1.globo.com/mundo/noticias. Acesso em: 27 de ago de 2019.