Onde está nosso gênio do ecologismo? - por Xico Graziano

Da fome prevista por Malthus ao colapso anunciado pelo Clube de Roma o futuro foi salvo pelo avanço científico


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José Lutzenberger foi o ecologista mais marcante de minha geração. Suas pregações, nos anos de 1970, sobre o futuro da civilização encantavam, e ao mesmo tempo apavoravam, nossa mente juvenil. Felizmente, seu pessimismo não se confirmou.

Engenheiro agrônomo, o gaúcho Lutzenberger criticava fortemente o modo de vida consumista, expresso pelas famílias norte-americanas. Ele não deixava nenhuma dúvida: era impossível estender o padrão de consumo dos EUA para o restante do mundo. Cessariam os recursos naturais do planeta Terra.

Sem controlar a "ideologia de expansão e esbanjamento ilimitados", viria o "fim do futuro". Este, aliás, é o subtítulo de seu famoso "Manifesto Ecológico Brasileiro", publicado em 1976. Sua pioneira Agapan (Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural) fez história.

Naturalista, nudista, o estridente Lutzenberger foi logo convidado pelo recém-eleito presidente da República, Fernando Collor, para assumir, em 1990, a Secretaria Especial de Meio Ambiente (ainda inexistia o ministério). Sua gestão foi incerta e confusa, como todo aquele governo. Muito discurso, pouco resultado.

Há 50 anos, acreditava-se que a escassez de recursos naturais causaria o colapso civilizatório. O petróleo e os minerais se tornariam raros, inviabilizando a industrialização e encarecendo o transporte; recursos hídricos e atmosfera estariam irremediavelmente poluídos.

Para evitar o colapso ecológico havia só duas saídas: 1) realizar o controle populacional e 2) controlar o crescimento econômico. Acabou sendo essa a recomendação essencial do Clube de Roma, ao publicar em 1972 seu relatório "Limites do Crescimento".

A população humana somava, então, 3,7 bilhões de pessoas. Passar desse ponto, viria o desastre. Daí surgiu a teoria do "crescimento zero".

A terrível previsão do Clube de Roma só perdeu, em grandeza histórica, para o vaticínio anterior, atemorizante, de Thomas Malthus, na virada do século 19. O dilema existencial entre os seres humanos e a alimentação tomou conta do mundo. Éramos 1 bilhão de habitantes e se iniciava a explosão populacional.

Em tais momentos dramáticos, quem apostou no pior, perdeu. Não vieram o desastre da fome e as guerras por comida anunciadas por Malthus, nem o colapso do Clube de Roma se configurou. A teoria do crescimento zero nunca deixou o papel. Seguimos em frente.

Os cenários de longo prazo, ou estavam equivocados ou não puderam, sequer, ser visualizados. Quando pergunto aos meus alunos como e por que tais catástrofes foram evitadas não dou margem à respostas duplas: a razão reside no avanço científico e tecnológico.

Malthus, por mais inteligente que fosse, não conseguiu enxergar o constante aumento da produção rural e, principalmente, da produtividade por área, fatores que deslocaram a curva da oferta alimentar acima do crescimento populacional.

Os estudiosos do Clube de Roma, mesmo auxiliados pelo conceituado MIT, dos EUA, não imaginaram o impacto da revolução tecnológica na construção da economia verde. A lição é clara: somos aprisionados pelo conhecimento que dispomos.

Só alguns visionários conseguem romper a barreira do pensamento, vendo o que ninguém supõe existir, como fizeram Júlio Verne ou Leonardo da Vinci. Desculpem-me pela franqueza, mas no ambientalismo ainda não tivemos um gênio desse quilate. No Brasil, o físico José Goldemberg chegou perto.

Nossos pensadores ecológicos deixam-se contaminar pelo pessimismo, como se estivéssemos fadados a ser derrotados por nós mesmos, pelos nossos erros insanos, idiotas e estúpidos, que nos levarão ao precipício, ao final do futuro. Chocante.

Quem, como eu, trabalha na agenda da alimentação e do meio ambiente, não tem motivos para ser derrotista. Problemas, sim, existem à vontade: desertificação, perda de habitats naturais, mudanças de clima, incessantes pragas, moléculas sintéticas perigosas.

Por outro lado, soluções agronômicas surgem a cada momento: sistemas de plantio direto, integração lavoura-pecuária-silvicultura, bioinsumos, irrigação por gotejamento, bioenergia, edição genética e drones.

O resultado na produtividade do campo é fenomenal: segundo o USDA, de 1961 a 2020 o setor agrícola global quase quadruplicou a produção, enquanto a população total cresceu 2,6 vezes, resultando em um aumento de 53% na produção agrícola per capita. Cada habitante do planeta exigia perto de 1,46 hectares na produção de alimentos, quantidade reduzida para 0,70 hectares.

Há poucos dias o Unicef, agência da ONU, anunciou que, pela 1ª vez, a obesidade superou a desnutrição como forma prevalente de má nutrição entre crianças e adolescentes. A prevalência da desnutrição caiu entre crianças de 5 a 19 anos, de 13% para 9,2%, enquanto as taxas de obesidade aumentaram de 3% para 9,4%.

Antes era a fome. Agora, a obesidade humana supera a desnutrição em todas as regiões do mundo, exceto na África Subsaariana e no Sul da Ásia. O ecologista Lutzenberger, que previa o fim do futuro, jamais imaginaria tal cenário.

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