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O preço da maldade


Desde o anúncio do pouco surpreendente rebaixamento do francês Pierre Gasly da Red Bull para a Toro Rosso, os aficionados do automobilismo se dividiram. Para a maior parte, foi mais um ato ignominioso do diretor esportivo Helmut Marko, a quem o mundo adora odiar. Poucos outros enxergaram na troca a atitude correta de um dirigente que vê ser desperdiçado o melhor momento de Max Verstappen na luta pela vice-liderança do Campeonato Mundial de Construtores. No momento, a vice-liderança é da Scuderia Rossa, que tem 288 pontos, 44 a mais do que os 244 da Red Bull. Deste total, Gasly contribuiu com 63, menos do que a metade dos 181 trazidos por Verstappen - que nos últimos quatro GPs marcou nada menos de 81 pontos, mais do que qualquer outro piloto. No mesmo período, o francesinho fez apenas 26. Em média, a diferença da premiação ofertada ao segundo e ao terceiro colocados no Mundial gira em torno de 25 milhões de dólares. Como se diz nas séries policiais de TV, basta seguir o dinheiro... A nova vida de Albon Protegido pelo perfil mais baixo da equipe Toro Rosso, Alex Albon mudou de categoria na fase inicial deste mundial de F-1. Passou de semidesconhecido a promessa no espaço de 12 corridas. Pontuou em cinco etapas e, se não fosse o GP da Alemanha, onde o terceiro lugar aumentou muito a vantagem de Daniil Kvyatt sobre ele, o anglo-tailandês estaria quase empatado com seu companheiro, bem mais experiente. A partir deste fim de semana, porém, Albon conhecerá uma outra F-1. Agora, ele terá sobre si a pressão de correr por uma equipe campeã, ao lado do piloto que rivaliza prova a prova com o pentacampeão Lewis Hamilton. O foco da mídia estará sobre ele, os bons resultados já não serão uma esperança às vezes distante, mas uma obrigação. Até agora, Albon mostrou uma capacidade de conviver com a pressão surpreendente para um piloto de apenas 23 anos, mas corria por uma equipe que teve uma única vitória em toda sua existência. O que ele encontrará na Red Bull é exatamente o oposto do que viveu até agora. Será que dá para ele? Poucas esperanças para a Ferrari A Fórmula 1 volta à atividade neste fim de semana, após quase um mês de descanso. É um período vigiado de perto pela FIA, que veta qualquer trabalho das equipes. Por isso, não se deve esperar mudanças na hierarquia: Mercedes continuará a ser a força dominante, a Red Bull e a Ferrari suas perseguidoras, em maior ou menor distância. Resta ver se esse Grande Prêmio, na Bélgica, será tão empolgante quanto foram os quatro últimos. O palco, Spa-Francorchamps, um circuito da velha escola, tem características que, na teoria, podem trazer a Ferrari mais para perto da Mercedes. Talvez, colocá-la até à frente da Red Bull, mesmo que os motores Honda que impulsionam os carros azuis tenham hoje quase a mesma potência dos adversários. Mais que a potência, porém, são os pneus que ditam o sucesso ou o fracasso de cada carro nas corridas atuais. No primeiro caso, se destaca a Mercedes; no segundo, a Ferrari. Sem disporem de tanta pressão aerodinâmica quanto os adversários, Sebastian Vettel e Charles Leclerc têm visto a vantagem conseguida nas retas se evaporar nas curvas. Essa pressão inferior se reflete no comportamento dos pneus. Basta uma única derrapagem para elevar a temperatura, o que causa queda de aderência. Seguir um carro de perto reduz à metade a força com que o ar pressiona o carro contra o asfalto. Com isso, a força centrífuga (que empurra os carros para o lado externo das curvas) supera a aderência dos pneus, que escorregam e ganham temperatura. A cada corrida, a Pirelli disponibiliza para as equipes pneus com três níveis diferentes de aderência - e também de durabilidade. Quanto mais macios, mais eles aderem ao solo - em contrapartida, menor é sua vida útil, já que geram mais calor. A temperatura também depende da frequência de curvas: o calor gerado nelas se dissipa nas retas, onde os pneus recebem ar frontal, mas quando as curvas se sucedem, esse benefício rareia. Para Spa, a Pirelli escolheu os três modelos mais duros de sua escala, o C1, o C2 e o C3. Eles permitem que, a exemplo do ocorrido na Inglaterra, os carros sigam uns aos outros mais de perto e por mais tempo, a maior dureza permite aos pneus conviverem melhor com temperaturas mais altas. Isso ficou nítido em Silverstone, principalmente no início da prova, quando Lewis Hamilton e Valtteri Bottas mantiveram curtíssima distância entre seus Mercedes quando duelavam pela liderança. É aí que residem tanto o sonho quanto o pesadelo da Ferrari. Dominadora absoluta do GP da Inglaterra de 2018, ela repetiu a vitória na Bélgica. O sonho seria repetir neste fim de semana o sucesso do ano passado em Spa. O pesadelo é que, como na última temporada, o dominador do GP da Bélgica seja o mesmo da Inglaterra. Se há algum otimismo na Ferrari, ele se deve à existência de apenas duas curvas lentas em Spa, a La Source, um cotovelo que abre a volta, e a Rivage, no meio do percurso. É nelas que fica mais nítida a influência da pressão aerodinâmica e, portanto, onde os carros vermelhos mais perdem em relação aos prateados da Mercedes e aos azuis da Red Bull. Há também o longo trecho de aceleração que se inicia na saída da La Source, desce a reta até a antes temida Eau Rouge (transformada em "reta" pelas asas enormes e os larguíssimos pneus), prossegue pela Raidillon e vai até a freada da Les Combes. É um percurso longo o suficiente para a maior velocidade máxima da Ferrari se impor. Será que basta? Esta é a pergunta que fica. Créditos da Foto: Emannuel Dunand/AFP

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