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468 anos de São Paulo: como o campo está unido à cidade

A agricultura brasileira mostrou seu valor no momento em que a capital paulista crescia vertiginosamente


Se as cidades perecerem e os campos forem preservados, as cidades renascerão; mas se os campos forem destruídos, as cidades desaparecerão". (Frase atribuída a Abraham Lincoln)

Era setembro de 1979. A Ceagesp inaugurava seu 1º varejão na capital paulista. Atraída pela promessa de preços baixos, uma multidão de 300 mil pessoas se estapeou para comprar gêneros hortifrutícolas. Deu enorme confusão.

O episódio espelhava o grande drama da metrópole que crescia continuadamente: o abastecimento popular de alimentos. A carestia, como se dizia então, rondava apavorando os lares de São Paulo.

Neste 25 de janeiro de 2022, a cidade de São Paulo comemora 468 anos. Desde 1554, quando os jesuítas criaram seu colégio. Sua verdadeira história começa a ser contada mais de 300 anos depois, a partir do sucesso da economia cafeeira nas terras paulistas.

Em 1872, a cidade de São Paulo tinha perto de 30.000 habitantes. Era, pois, ainda uma pequena vila. Mais duas décadas, em 1890, o Censo já indicava 65.000 habitantes, cerca de metade estrangeiros, destacando-se italianos e espanhóis. Na virada do século 20, aí sim, viria seu estrondoso crescimento populacional.

Londres, bem antes, havia passado por um processo semelhante. Em 1605, a capital do Reino Unido tinha 205 mil habitantes. Em 1800, sua população atingiu 1 milhão de pessoas.

Foi naquele momento que o demógrafo Thomas Malthus, prevendo a explosão demográfica europeia, faria sua terrível previsão, de que a produção de alimentos não conseguiria acompanhar o crescimento populacional.

"Proíbam-se os filhos, senão a fome grassará. E virão guerras." Mas ninguém fez controle de natalidade. Resultado: 1 século depois, em 1901, Londres ostentava 4,5 milhões de habitantes.

Nenhuma população, seja de insetos, ratos ou humanos, cresce sem fartura de comida. Ou seja, Londres virou uma metrópole porque conseguiu assegurar a oferta de alimentos ao seu povo.

A história, categoricamente, desmentiu Malthus. Onde ele errou? Seu raciocínio havia desprezado a força do avanço tecnológico no campo.

Pressionada pela demanda alimentar da urbanização, a 1ª revolução agrícola ocidental, no século 19, inventou o arado de aiveca, cercou as terras agrícolas, drenou os pântanos, trouxe o adubo de Guano do Pacífico. Fez muito mais.

Contou com a ajuda da deliciosa batata, tubérculo nativo dos Andes, descoberto pelos espanhóis, adotado pelo 1º mundo como se dele fosse originário.

Com São Paulo seria bem semelhante. Em 1950, a capital paulistana já estava com 3,5 milhões de habitantes. E ainda nem havia começado o tremendo êxodo rural que empurraria milhões de almas, oriundas da roça, para os centros urbanos do país.

Nesse contexto, se colocaria o maior desafio jamais enfrentado pelo Brasil: conseguir manter o alimento na mesa das famílias que migravam para as cidades. Na época, importações de alimentos eram necessárias para complementar o feijão e a mandioca verde-amarelos.

Havia chegado a hora da agricultura brasileira mostrar seu valor. A política pública direcionou recursos, criou condições. Os produtores rurais fizeram sua parte, expandindo lavouras e criações. Agroindústrias surgiram. Cinturões verdes impuseram sua marca. Canais de comercialização se afirmaram.

Em algumas décadas, com o avanço da modernização tecnológica da agropecuária, o Brasil adquirira autossuficiência na produção de alimentos. Exceto no trigo, cereal importado que caiu no gosto da população. O macarrão substituiu a polenta.

Comemorar o aniversário de São Paulo permite refletir sobre essa bela trajetória da alimentação paulistana. Uma crônica que valoriza nossos antepassados, sitiantes e fazendeiros, trabalhadores rurais que calejaram as mãos para ajudar o progresso urbano do país. O campo está unido à cidade.

São Paulo é de todos nós.



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