A Patrulha Maria da Penha tem sido fundamental no apoio a mulheres que enfrentam o desafio de romper com relacionamentos abusivos. Mas o que significa, na prática, deixar para trás uma vida de agressões e buscar ajuda da Polícia Militar? E como essa decisão transforma a vida de quem já foi vítima e hoje acolhe outras mulheres?
Lúcia Cardozo, de 43 anos, conhece bem essa realidade. Nascida em Jabuti e criada em Guapirama, no norte do Paraná, ela carrega no sorriso a superação de uma história marcada pela violência.
"Com o passar dos anos, tudo evoluiu para um abuso emocional, físico... todos os tipos que você possa imaginar. Eu tentava me livrar, tentava me separar, sair daquele relacionamento, porque fui me apagando, me anulando. Não tinha rede social, não tinha mais nada. Só podia ir trabalhar, e mesmo assim, no limite", relata Lúcia.
Mãe de duas meninas, hoje com 17 e 9 anos, ela tomou a decisão definitiva após episódios graves de violência.
"A primeira agressão foi um soco. Depois vieram os empurrões, tapas, chutes… até quase me matar. Mesmo separada, ele tentou tirar minha vida. Foi aí que entendi que não tinha mais o que esperar", relembra.
A atuação da Patrulha Maria da Penha da Polícia Militar, presente em todo o Paraná e, desde o ano passado, com uma segunda intervenção em Cascavel, tem sido decisiva nesses casos. O trabalho consiste em visitar vítimas e também os agressores para entender o contexto da violência e oferecer suporte.
"Após o registro da ocorrência na Delegacia da Mulher, na Polícia Civil, na Guarda Municipal ou na própria PM, passados de 10 a 15 dias, realizamos visitas a essas mulheres e também aos autores, para entender o que a família precisa. Muitas mulheres sequer reconhecem que estão em um ciclo de violência", explica a soldado Vanessa Andreoli, integrante da Patrulha.
De abril de 2024 a abril de 2025, foram realizadas mais de mil visitas pela equipe. Só entre janeiro e junho deste ano, já são 740 atendimentos. Em média, a cada 15 dias, cerca de 180 visitas são feitas. O trabalho também inclui palestras, que já alcançaram mais de 5 mil mulheres. Quando necessário, a rede de proteção é acionada.
"Encaminhamos as mulheres para atendimentos psicológicos, médicos ou jurídicos, por meio de parcerias com o município, o estado e instituições parceiras", detalha Vanessa.
A coragem de buscar ajuda foi o primeiro passo para a transformação de Lúcia. Hoje, além de contadora, ela é mentora emocional, psicanalista e terapeuta.
"Às vezes, só de ouvir a história da mulher, já sei o que ela está sentindo. Porque eu passei por isso. E muitas me perguntam: ‘Quem te contou da minha vida?’ E eu respondo: ‘Ninguém, é que eu já vivi isso’. Isso traz um alívio imediato para elas", afirma.
Além da atuação profissional, Lúcia também abraçou causas sociais. É embaixadora do projeto Bem Brasil, Miss Brasil Goldmaster, participou de etapas do Miss Paraná e do Miss Brasil Afro.
"Crescemos ouvindo que em briga de marido e mulher ninguém mete a colher. Mas hoje, a gente mete a colher, sim! Precisamos denunciar, ajudar, porque muitas mulheres não têm coragem, por medo. Então é dever de todos nós levar a informação até os órgãos competentes", reforça a soldado Vanessa.
Para Lúcia, a maior vitória foi reconquistar a própria identidade.
"Você vai se perdendo aos poucos… não consegue fazer as coisas mais simples, como ir à manicure, fazer o cabelo. Tudo é controlado, monitorado. Sua roupa, suas atitudes, tudo é motivo de crítica. Ou você escolhe viver para o outro ou escolhe a si mesma. E eu escolhi viver", finaliza.
Confira detalhes no vídeo acima:
Reportagem de Patrícia Cabral | EPC - ESPORTE, POLÍTICA E CIDADANIA
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