Medo, pânico e preocupação: esses são os sentimentos mais comuns dos cidadãos da Síria, que passa por uma trágica guerra civil que parece não terminar. Para escapar desse terror, muitos sírios estão fugindo da Síria e vindo para o Brasil, em busca de refúgio e paz. Já são mais de 300 pessoas da Síria refugiadas no Brasil. Aqui em Ponta Grossa, chegou uma família através do projeto Renovare, pela agência Missão e Apoio a Igreja Sofredora (Mais), acolhida pela Primeira Igreja Presbiteriana. A família é formada pelos pais Adham e Negod e pelos filhos Nour, Shamis e Ramah.
Eles receberam casa mobiliada e estão aprendendo o português para iniciar uma vida na cidade. A família, que morava numa cidade no Sul da Síria, próximo a fronteira da Jordânia, chegou ao município há quase 2 meses. Através de uma tradutora, a família conta que saiu ilesa e que na cidade deles não houve guerra. Sua rotina era normal, mas eles estavam tristes com o que estava acontecendo no resto do país. ?Na nossa cidade nos sentíamos seguros, mas ficamos deprimidos quando soubemos que muitas pessoas estavam morrendo?, diz Negod. Segundo a tradutora, eles acharam Ponta Grossa uma cidade moderna e confortável e admiram a forma como o brasileiro vive e a alegria que temos. Eles até já arranham algumas coisas em português, como ?bom dia? e ?boa tarde?.
Segundo o Pastor Marcos Aurélio, da Primeira Igreja Presbiteriana, que acolheu a família, o principal objetivo da missão é tirar as famílias de situações de risco na Síria. O pastor acredita que a adaptação está sendo boa. ?A principal barreira está sendo a língua. As pessoas que tem convivido com eles têm se esforçado bastante. Eles tem gostado das pessoas e da cidade?, afirma. Ele ainda conta que a comunidade se uniu e conseguiram várias doações e ainda estão as aceitando. Ele conta que a Igreja tem o compromisso de dar sustento total durante um ano, incluindo moradia, alimentação, necessidades básicas e a inserção no mercado de trabalho, bem como ensinar a língua portuguesa.
A adaptação da família já começou. O pastor conta que uma das crianças até já começou a estudar e é importante que eles se sintam acolhidos e se adaptem rápido. Além das aulas de português, eles já estão se inserindo nas celebrações da Igreja. ?Normalmente eles estão indo em todas as celebrações. Providenciamos as traduções para eles não ficarem perdidos?, conta o pastor.
Embora a família tenha saído ilesa do país, o assunto ainda é um pouco delicado para eles. O pastor conta que eles preferem não ficar falando sobre como era a situação na Síria e que esse assunto acaba tornando-se constrangedor. No entanto, o ele conta que a fé foi fundamental para a família. ?A Mais trabalha com assistência à igrejas que estão em situação de risco e por eles pertencerem a uma igreja cristã, eles tiveram a oportunidade, ou seja, a fé foi o que os trouxe para o Brasil. Eles entendem que é Deus que está dando esta oportunidade.
Otimista, o pastor acredita que logo a família se adapta. ?Eu creio que na comunidade da Igreja eles estão bem soltos, mas em relação ao país, eles têm um certo receio, mas é só questão de adaptação. Eles precisam entender a língua, conhecer a cultura, mas no primeiro momento, eles estão bem alegres?, conta. O pastor ainda desafia outras igrejas a participarem da ação e diz que de forma prática acolheram essa família, e quem sabe no futuro ainda acolham outras. ?Pode parecer pouco, mas pra essa família faz uma grande diferença? ressalta o pastor.
O Brasil foi o primeiro país das Américas a oferecer asilo humanitário especial aos sírios, em setembro do ano passado, o que promete aumentar ainda mais o número de pedidos. De 2012 para 2013, o número de refugiados sírios aumentou drasticamente: de 38 para 284. O Brasil até foi parabenizado pela ONU (Organização das Nações Unidas), mas há uma série de dificuldades enfrentadas pelos cidadãos sírios para conseguirem manter-se sem depende de caridade.
Adaptação é uma das principais dificuldades
Chegando aqui a realidade não é tão fácil. É preciso esperar o atendimento da Polícia Federal para conseguir o asilo, o que pode levar meses por causa da quantidade de pedidos. Depois da solicitação, o refugiado recebe uma carteira provisória para poder trabalhar e se manter, mas o desafio é encontrar um emprego quando se fala pouco ou quase nada de português. Por isso é fundamental a boa vontade dos brasileiros. A maioria dos sírios acaba passando por instituições de caridade, como é o caso da família aqui em Ponta Grossa, o que ajuda no processo da documentação e nas necessidades básicas.
Brasil se mostra propício para os sírios
Estima-se que 3 milhões de brasileiros tenham ascendências síria, principalmente devido a uma onda de imigração que ocorreu no início do século 20. Esse é um dos principais motivos para a procura do Brasil, as raízes familiares. O Brasil começou a ser considerado um destino possível para os sírios, visto como uma terra de oportunidade, um país aberto e em franco crescimento que poderia abrigar as vítimas de uma guerra sangrenta que já matou mais de cem mil pessoas. Depois do asilo humanitário, o Brasil parece ainda mais brilhante para os refugiados.
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