A cada 10 litros de leite, é possível fazer um quilo de queijo. O restante vira um subproduto - o soro. Por isso, no processo de fabricação nos laticínios, após a pasteurização, a coagulação e a dessoragem, cada um segue para um lado: a massa se transforma em mussarela e esse monte de soro antes tinha um destino incerto.
A frase está toda no passado porque o presente é bem diferente. Neste laticínio em Cascavel, o soro previamente tratado e resfriado passou a ser produto de mercado vendido para um comprador, a 80 quilômetros daqui. A possibilidade começou pelas mãos e ideia do seo William da Silva. A experiência de 35 anos em empresas de produção de derivados do leite fez com que ele notasse o tamanho do desperdício. Ele enxergou o potencial que o produto descartado tinha. Por isso abriu a empresa Sooro em Marechal Cândido Rondon há 13 anos.
Primeiro, a indústria focou na transformação do soro em pó comum. Com o passar do tempo, investimentos em estrutura e funcionários permitiram que a produção fosse além, com a fabricação de concentrado proteico de soro e permeado em pó, ingredientes úteis para a indústria alimentícia.
Na mesma proporção em que o soro pode ser rentável também pode ser um devastador do meio ambiente. Aí aparece mais um ponto positivo para este tipo de negócio. Retirar o produto da natureza significa acabar com poluidor de potencial 100 vezes maior que o esgoto doméstico.
A localização é estratégica. A indústria fica justamente na microrregião que contempla duas das maiores bacias leiteiras do país: Toledo e Marechal Cândido Rondon. Portanto, matéria-prima não é problema. 1 milhão e 800 mil litros de soro chegam por dia aqui, nos caminhões terceirizados. Só que antes da permissão para se tornar fornecedor, uma análise minuciosa no laticínio é feita.
O soro é buscado num raio de 400 km, no oeste e sudoeste paranaense. Mesmo com a liberação prévia, o caminhão ao chegar na empresa deve passar por mais averiguações. O veículo chega, mas não é descarregado. Antes, amostras são recolhidas e levadas ao laboratório para checar a qualidade da nova carga.
Amostra liberada, descarregamento permitido. A partir daqui, quase não é possível ver o soro. Ele entra num circuito fechado, sem contato com o ser humano. Tudo é informatizado e da tela do computador saem os comandos para as máquinas funcionarem.
A partir daí, o soro fica estocado e a cada novo ciclo vai para filtração, evaporação e secagem, nesta torre, até chegar ao produto final. Porém, somente 6% do soro são aproveitados para a fabricação, os outros 94% são água. Nos processos, o líquido que sobra é tratado. Vai passando de lagoa em lagoa até chegar nesta última, onde tem a qualidade acima da exigida pelos órgãos competentes. Para atestar o resultado positivo, até peixes são criados aqui.
Uma parte da água segue para um córrego da cidade e outra é utilizada na limpeza de pisos. No futuro, a ideia é torná-la potável.
No mapa mundi, estão demarcados os mercados mundo afora que a empresa ainda pretende explorar e nas paredes os certificados habilitam a Sooro a encarar este desafio. Porém, antes disso, o consumo nacional ainda atende à capacidade de produção.
O faturamento que começou em R$ 1 milhão, em 2014, deve chegar a R$ 70 milhões. Um degrau alcançado, que agrega valor, permite um desenvolvimento sustentável e gera empregos e renda.
Jornal Catve 2ª edição